domingo, 27 de setembro de 2009

VBR-Belgium 5.7x28mm B2F 40 e o Conceito de Fragmentação Controlada




A munição de 5.7x28mm SS109 da metralhadora FN P90 e da pistola FN Five Seven, projetada para romper blindagens corporais, leva projéteis de pouca massa e diminuto diâmetro o que importa em baixíssimo poder de parada. Teoricamente, o comprimento do projétil alongado da munição de 5.7x28mm, em ocorrendo o efeito de tombamento, garantiria grandes cavidades permanentes e possíveis ondas de choque e pressão capazes de incapacitar rapidamente. Entretanto, sabemos que o efeito de tombamento (ou capotagem), conquanto desejável, nem sempre acontece na prática. Aqueles que dependeram de tombamento e fragmentação para ter algum “stopping power” garantido nos disparos com munição de 5.56x45mm OTAN morreram muitas vezes com seus rifles nas mãos, mesmo depois de terem efetuado disparos certeiros no peito dos seus oponentes nos teatros de operações pelo mundo afora e nas incursões policiais em áreas dominadas pelo crime organizado.

Para sanar esse problema da imprevisibilidade da ocorrência dos efeitos de tombamento e fragmentação em relação à munição de 5.7x28mm SS109, a VBR-Belgium desenvolveu a tecnologia de fragmentação controlada de projéteis.

A munição de 5.7x28mm é utilizada na pistola belga FN Five Seven, que se cogitava ser a arma de uso pessoal do ex-presidente estadunidense George W. Bush e se vê na foto ao lado. Este calibre ganhou a fama de “cop killer” e foi proibido há vários anos nos Estados Unidos.


Dividido em duas partes ligadas por um eixo delgado as quais tendem fortemente a tombarem e se desprenderem uma da outra após o impacto com o alvo, seguindo rumos distintos no interior deste, o projétil alongado de apenas 40 grains (2.59 gramas) da munição VBR-Belgium 5.7 B2F 40 provoca cavidades permanentes mais amplas que o da 5.7x28mm SS109. As ondas de choque hidrostático e pressão que decorreriam do processo de fragmentação controlada de projéteis tenderiam, então, a incapacitar oponentes mais rapidamente. Esta característica garantiria à munição algum poder de parada e a tornaria adequada à defesa pessoal, segundo os prospectos da brilhante fabricante belga de munições.


O BOPE, do Rio de Janeiro, possui algumas unidades da submetralhadora FN P90 em 5.7x28mm.


Assim, depois de romper blindagens corporais, a munição não faria apenas feridas nem causaria a morte após longos minutos ou horas dentro dos quais o alvejado permanece capaz de atirar e causar grandes danos.


Munição VBR-Belgium 5.7x28mm B2F 40.

A VBR-Belgium lançou também munições em 4.6x30mm com projéteis desenvolvidos para tombarem (ou capotarem) e se fragmentarem controladamente dentro do alvo de modo análogo ao visto em relação à munição 5.7x28mm B2F 40. Falamos da configuração 4.6 B2F do calibre alemão usado na submetralhadora HK MP7 e na pistola HK UCP.

Como bônus em relação a essa linha de estudos, outro tipo de fragmentação controlada de projéteis vem sendo utilizado em munições especiais da VBR-Belgium que tendem a corrigir a margem estatísticas de erros decorrentes de uma posição de tiro contrafeita, sem boa base, sem empunhadura ou postura corporal ideais. Os erros causados pela dificuldade que cidadãos civis, diferente dos operacionais, geralmente enfrentam ao ter que lidar com controle de ansiedade em situações de defesa são da mesma forma compensados e, por fim, a munição é tida como ideal para que pessoas com pouca experiência e adestramento em tiro possam se defender de agressões. Destarte, o conceito conflui para o mesmo tipo de resultado vislumbrado em relação ao desempenho balístico do RT .410 “Judge”.


Efeito da munição VBR-Belgium 5.7x28mm B2F 40 em gelatina balística. Vê-se, bem ao centro, o ponto de capotagem (onde se forma a "tumbling zone") e fragmentação, e, a patir dali, as trajetórias divergentes das duas partes do projétil, formando um "Y".


Uma dessas munições para defesa pessoal da empresa belga requer o uso combinado de um kit de conversão para pistolas Glock 17, 19 e 26. Trata-se da VBR-Belgium 7.92x24mm S-3P, notação dentro da qual “S” significa “Shotgun”.

Os projéteis destas munições se fragmentam controladamente em três partes ainda fora do alvo, podendo atingi-lo em até três pontos distintos. No vídeo abaixo, vê-se como funciona o conceito e o seu efeito a 4, 7 e 10 metros.




Este mesmo tipo de fragmentação controlada, que funciona tanto em canos raiados como em canos de alma lisa, é utilizado para transformar revólveres de caça no calibre .44 Magnum em armas adequadas à defesa residencial, segundo a fabricante.

Na foto abaixo, vê-se um belo Smith&Wesson modelo 29 ao lado de um remuniciador com munições .44 Magnum CF3.

O forte da VBR-Belgium continua sendo as munições AP com “sabots” em .45 ACP e 9mm PARA, contudo, o ideal de “consertar” a munição de 5.7x28mm SS190, se não chegou ainda ao seu apanágio, parece estar muito próximo disto com a munição VBR-Belgium 5.7x28mm B2F 40, e os fundamentos deste "conserto" poderão, ainda, ser aproveitados em outros calibres que apresentam o mesmo tipo de limitação.


sábado, 19 de setembro de 2009

Uma Atualização do FAL Pela Via da Munição II



No artigo homônimo deste publicado em 12 de dezembro de 2008, esperávamos poder usar na mesma arma, sem qualquer modificação, duas munições de cargas distintas, levando em conta que o FAL opera com pressões bem superiores à necessária para fazê-lo ciclar e esta é uma das características que garantem a sua esplêndida e decantada robustez.

Hoje, nove meses depois, surgiram vozes divergentes em relação à perspectiva que abrimos, mas ainda não foi testada na arma a carga reduzida proposta. Esta carga seria calibrada para se obter em torno de 2.300 joules, tendo em conta que o 6.8mm SPC Remington libera 2.385 joules e a M43, munição padrão do AK-47, de 7.62x39mm, 2010 joules: estes calibres são paradigmas de altíssimo desempenho em munições de assalto. O teste permitiria saber se a arma limpa deixaria de ciclar com a carga proposta ou se, pelo contrário, operaria normalmente.

Tem muito peso a opinião do engenheiro Paulo Gonçalves no sentido de que seria necessária uma nova arma para trabalhar, alternadamente, com o 7.62x51mm OTAN e com esse 7.62x51mm de carga reduzida e adaptada para CQB de forma a permitir rajadas mais controláveis que as possíveis com a munição padrão e, ainda, como bônus, maior transferência de energia (e maior poder de parada) com menor transfixação dos alvos. Ao mesmo tempo, o parecer sugere, logo de início, a viabilidade técnica do uso intermitente de tais munições numa mesma arma, desde que construída para este fim.

Ademais, a minha interpretação do prognóstico do mestre Paulo Gonçalves, transmitido, inclusive, de modo completamente informal e lacônico num fórum da web, é no sentido de que este aponte para graus de excelência na operação da arma básica das nossas Forças Armadas diante dos quais, para um técnico perfecionista, o improviso e a adaptação seriam tão desnecessários quanto inaceitáveis. Eu continuo convicto de que o FAL limpo irá ciclar perfeitamente bem quando testado com a munição equacionada para combates confinados e a curtas distâncias dentro do parâmetro indicado. Entrementes, num momento em que o País vive uma nova relação com a área de defesa, fazendo investimentos bilionários para o reaparelhamento de duas das nossas Forças Armadas, já não se faz necessário realmente pensar em adaptações tais como as que esboçamos neste blog no ano passado, quer em relação ao FAL, quer em relação, por exemplo, à submetralhadora Ingram Mac-10.

Tendo enfrentado a crise mundial emanada da recessão norte-americana de forma surpreendente para o resto do mundo, o Brasil vem confirmando as previsões que o referem como uma das potências emergentes do bloco batizado de BRIC (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China). A China já é a maior potência econômica mundial e a Índia será a segunda em breve, ultrapassando os EEUU. Enquanto que estes dois países, dentro do grupo dos BRICs são precipuamente exportadores de manufaturados e serviços, respectivamente, Brasil e Rússia seriam principalmente produtores de matérias-primas, mas não mais aquela matéria-prima bruta e sim insumos em larga medida beneficiados. Até 2050, o referido bloco de quatro gigantes exercerá hegemonia sobre um mundo multipolarizado, segundo previsões de analistas muito embasados.

Seja como for, é fato que a posição do Brasil atualmente demanda investimentos de vulto na área de defesa, tanto para a manutenção da nossa soberania, como para o incremento do próprio setor de material bélico, dentro do qual já fomos mega-exportadores, devendo este voltar a ser um dos sustentáculos da nossa economia. Conquanto a criatividade brasileira tenha-se tornado mundialmente notória por se ver potencializada ao limite diante do imperativo de ter que administrar a escassez de recursos, doravante será possível pensar soluções na área de defesa que não passem necessariamente pelo condão de "tirar leite das pedras".

Assim, mantendo o ideal de uma atualização do FAL pela via da munição, vamos tratar de sugerir uma modernização da arma em si sem pôr a perder o patrimônio de confiabilidade e credibilidade comercial adquiridos por esta. Manteremos, pois, em termos de massa (peso), cerca de 80% do FAL original e, em termos de número de peças, 50%, o que, em relação ao custo de fabricação, importa uma economia da ordem de 85%, segundo estimativas do nosso amigo Dr. Paulo Gonçalves.


Uma versão “bullpup” do FAL: M009 “Tamacavi”

Dentro das estimativas acima, podemos ter uma versão “bullpup” do FAL capaz de operar seguramente com a munição de 7.62x51mm OTAN para cobertura de fogo, saturação de área e engajamentos a longas distâncias e, intermitentemente, com aquela munição otimizada para CQB a que chamamos no ano passado de 7.62x51mm - P Spl, mas que, hoje, vamos rebatizar de 7.62x51mm CQB Esp.

A provocação para este artigo surgiu com a postagem por um agente federal amigo nosso de um “link” em que se viam fotos de rifles “bullpups” tendo como legenda o comentário lacônico do amigo: “versões ‘bullpup’ do FAL”.

Entre as fotos vistas, a do Kel-Tech RFB era a que mais se aproximava de uma versão “bullpup” do FAL. O RFB, que já foi mencionado neste blog e aparece numa foto acima de um PARAFAL, é um rifle semi-automático em 7.62x51mm, que usa os carregadores da nossa arma básica, copia o seu sistema manual de regulagem de pressão, leva uma armação em polímero e parece bastante balanceado para um “bullpup”, ergômico e estético. A extração é frontal, como a do FN F-2000 e esse detalhe nos interessa em especial.

Desenho em que se vê o Kel-Tech RFB em corte. Ponha-se reparo
no mecanismo de extração frontal

À nossa versão “bullpup” do FAL atualizada pela via da munição, ou seja, pensada a partir das munições que deverá calçar, vamos chamar de Tamacavi, reportando-nos à mitologia dos indígenas brasileiros: o Tamacavi, grosseiramente falando, é uma espécie de Hércules amazônico cujos braços são possantes como pernas e as pernas volumosas como tórax, segundo a lenda. Se o rifle fosse construído hoje, talvez o nome código dessa arma destinada a substituir o M964 fosse ser, então, — M009 “Tamacavi”.

A foto do RFB em corte acima fornece, pois, boas referências sobre o que seria o M009 “Tamacavi”. Tomemo-la por base. Vê-se que por trás do gatilho há espaço de sobra para a inserção de um — mecanismo de ação dupla semelhante ao do LAPA FA 03.

O LAPA FA 03, projeto brasileiro de um rifle “bullpup” em 5.56x45mm, traz uma inovação espetacular no mecanismo de disparo: não se precisa destravar e engatilhar a arma para acioná-la, mas apenas destravá-la: a ação dupla do gatilho funciona exatamente como as dos revólveres, é securíssima e propicia uma agilidade de resposta aterradora à arma. Como já comentamos neste blog, o Beretta ARX-160, um fuzil de assalto de quinta geração que deve entrar em uso em 2010 na Itália, possuiria também um sistema de gatilho algo semelhante ao do LAPA FA 03, embora a fonte dessa informação tenha-se perdido...

Com a postura do mecanismo de ação dupla no M009 “Tamacavi”, teremos um rifle compacto, bem manobrável, e robusto ao extremo pronto a operar com agilidade única em situações que demandem a utilização de rifles de assalto. Em tais situações, o militar treinado faria uso da munição 7.62x51mm CQB Esp., podendo efetuar rajadas bem controláveis num calibre com alto poder de parada. Para incremento da função de rifle de assalto do nosso Tamacavi, vamos inserir no projeto, ainda, uma seleção de fogo com três posições: tiros intermitentes, rajadas de três tiros e rajadas.

LAPA FA 03.

O mecanismo de seleção de fogo me parece caber também perfeitamente na imagem em corte do RFB, que persistiria sendo parecida com a do M009 “Tamacavi”. Isso que nós estamos fazendo aqui, sem perder de vista a humildade que nós, simples leigos curiosos devemos manter, é o que se chama — traçar parâmetros iniciais para a construção (e eventual encomenda) de uma arma de fogo. Assim, não precisamos nem podemos saber como construir e montar a arma peça a peça, mas apenas ter uma visão e uma proposta tática sobre como esta deveria ser em linhas gerais e por quê.

Eu sugeriria carregadores translúcidos em material sintético para o Tamacavi, já que a arma é pensada para operar com dois tipos de munições distintas que podem levar pontas de cores diferenciadas para identificação mais rápida e segura.

Sugeriria enfaticamente uma tecla de segurança sobre o gatilho para tornar ainda mais efetiva a utilização do mecanismo de disparo em ação dupla: desta forma, sequer será necessário manter a arma travada o tempo todo, estando o militar fuzileiro sempre pronto para a reação imediata.

A extração frontal é imensamente vantajosa em relação, por exemplo, àquela tosca ejeção lateral de cápsulas que se vê ainda no TAVOR da Taurus/IMI: o já antiquado e limitado TAVOR, se configurado para utilização por usuários destros, não tem como ser operado imediatamente por canhotos, e vice-versa. A reconfiguração do TAVOR para uso por um atirador canhoto demanda desmontar a arma e levar a cabo um procedimento trabalhoso, relativamente complexo e demorado.

Há uma área ampla para a colocação de trilhos do tipo picatinny sobre a caixa de culatra, sobre as telhas e sob o cano à maneira do que se vê no FN Scar. Também à maneira do que se vê no FN Scar, pediríamos canos modulares de dois ou três comprimentos aos construtores: um cano de 13 polegadas seria recomendável para a aplicação da arma como fuzil de assalto; talvez um cano de 16 polegadas, para o seu emprego como MBR (em cobertura de fogo, saturação de área e engajamentos a longas distâncias); e um cano bastante longo de 24 polegadas (usado no RFB Sporter), para uma eventual utilização sniper. Para emprego como MBR, entretanto, nós já possuímos os legendários FAL e PARAFAL e por isso talvez nem sejam necessários canos de 16 polegadas para o M009 “Tamacavi”. Assim, quando os engajamentos comecem inesperadamente a ocorrer a distâncias maiores que as previstas de início, a possibilidade de emprego da munição de potência plena na arma padrão, com canos de 13 ou 16 polegadas, seria um trunfo inédito. Canos de 16 polegadas para 7.62x51mm são utilizados também nas carabinas SOCOM 16 e SOCOM II (esta com cano de 16.25”). Entretanto, vamos, por ora, estabelecer o cano de 13 polegadas como padrão para o nosso “bullpup” baseado no FAL.

FN Scar H com canos de 13”, 16” e 20”.

A doutrina norte-americana sobre o uso tático do FN Scar, quando estiver pronta e divulgada, poderá nos servir de modelo para fazer uso efetivo dessa modularidade de canos prevista já aqui. Um sistema de troca rápida de canos como o do Scar seria, então, bem-vindo no nosso rifle.

Teríamos nesta arma um complexo tático, mais que um simples fuzil. Os acessórios, tais como visores noturnos, miras de visada rápida, holográficas e laser, lança-granadas e lanternas tornariam esse complexo cada vez mais polivalente e insuperável.

Para manter a fidelidade à fabricante do protótipo do FAL, poderíamos tentar equacionar espaço na arma para acoplar o lança-granadas FN40GL, projetado exclusivamente para o FN Scar. Entretanto, inicialmente não me parece que haja espaço para um lança-granadas desse tipo num rifle “bullpup” com cano de 13 polegadas. Já o estupendo fuzil de assalto russo OTs-14 “Groza”, baseado no AKS-74U, que calça o 9x39mm, SP-5 e SP-6, ou o 7.62x39mm M43 (duas munições de recuo semelhante ao da nossa 7.62x51mm CQB Esp.), leva lançadores de granadas bem interessantes para rifles ultra-compactos nesta configuração.

Uma válvula automática de regulagem de pressão semelhante a que se vê no HK G36 utilizado pelas nossas forças especiais, comandos e polícia federal é o ponto-chave para a utilização segura das munições de pressões distintas pensadas para o M009 “Tamacavi”, estando a arma limpa ou muita suja, e isso nós já propusemos há algum tempo atrás.

A munição idealizada 7.62x51mm CQB Esp. traria sobre o 5.56x45mm OTAN a incomensurável vantagem de poder ser usada em combate de selva, sendo dois terços do território nacional recoberto por matas densas. O 5.56x45mm OTAN é inviável no combate de selva porque seus projéteis de apenas 4 gramas (62 grains) de massa se desviam em folhas, galhos e outros obstáculos facilmente, de modo que a floresta já fornece blindagem suficiente contra o débil calibre projetado para ferir mais do que para matar. A ausência de poder de parada do 5.56x45mm, que já causou tantas baixas entre soldados da OTAN ao longo de décadas também fica sanada: o nosso calibre tem “stopping power” teoricamente superior até mesmo ao do 7.62x51mm padrão, transferindo mais energia que este e transfixando menos a distâncias curtas e médias, vale repetir.

A robustez legendária do FAL deve ser mantida e, diante destes parâmetros, o que mais vier, se não for contraproducente, será um lucro adicional bem-vindo, mas nessa proposta já se tem mais do que o conceito puro de qualquer outro rifle militar de quinta geração pretendeu oferecer de modo chão até o momento. Para ênfase, lembremo-nos de que 50% das peças do FAL original da Imbel são utilizadas nesta arma, representando cerca de 80% do peso total do “bullpup” e uma economia em custos de fabricação da ordem de 85%, segundo estimativa técnica altamente abalizada.

Kel-Tech RFB semi-desmontado.

Pelas dimensões do Kel-Tech RFB, podemos estimar o comprimento da arma em, aproximadamente, 533mm com cano de 13” (CQB) e 610mm com canos de 24” (sniper). Pelo aproveitamento de peças, a massa total da arma deve ficar, acredito, sem acessórios e carregadores, mantido o sólido trancamento basculante do FAL, na casa dos 3.4 quilos com o menor comprimento de cano previsto. Já se passarmos a utilizar o trancamento rotativo do MD97, esse peso pode cair ainda mais.





Vídeo mostrando o Kel-Tech RFB com cano de 18”, calçando munição de 7.62x51mm OTAN em operação num estande de tiro. Os russos classificam o RFB como rifle sniper.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Mito Messiânico do "Dr." Fackler



Para início, Fackler é tão doutor quanto qualquer advogado, dentista, engenheiro ou médico com formação de terceiro grau. A tradição de chamarem-se bacharéis nessas áreas de “doutores” perpassa diversos países. Entretanto, quando se opõem as estranhas considerações de Fackler sobre armas e munições a trabalhos científicos levados a cabo por Professores-Doutores, a primeira impressão errônea que sobrevém é a de que o coronel médico reformado Martin Fackler tenha douramento no que quer que seja. Ora, a “controvérsia acadêmica” havida entre um bacharel em Medicina com um diploma bastante antigo e uma PhD em Medicina por Harvard com um currículo do quilate do que ostenta a Dra. Amy Courtney, por exemplo, é tão válida e relevante quanto uma controvérsia que possa surgir em sala de aula entre um aluno de primeiro grau e um professor com graduação em Ciências Biomédicas. De fato, não há controvérsia acadêmica possível.

Apenas à guisa de ilustração, vejamos que espécie de formação possui a Professora-Doutora Amy Courtney:

Tradução do subtítulo "Sobre os Autores" ("About the Authors") do texto científico "The Ballistic Pressure Wave Theory of Handgun Bullet Incapacitation".

Sobre os autores
Amy Courtney serve atualmente na faculdade da Academia Militar Norte-Americana de West Point. Ela obteve mestrado em Engenharia Biomédica pela Universidade de Harvard e Doutorado em Engenharia Médica e Medicina Física por um programa conjunto Harvard / MIT (Massachusetts Institute of Technology). Lecionou Anatomia e Fisiologia, bem como Física. Serviu como cientista pesquisadora na Cleveland Clinic e na Carolina Western University, bem como na faculdade de Engenharia Biomédica do Estado de Ohio.
Endereço de email para contatos com a doutora na Universidade de Harvard:
Amy_Courtney@post.harvard.edu

Some-se a esse gigantesco desnível acadêmico em relação ao pobre Fackler o fato de que a Professora-Doutora Amy escreve a quatro mãos com o também Professor-Doutor Michael Courtney, seu marido, cujo currículo não fica abaixo do dela:

Michael Courtney obteve PhD em Física Experimental pelo Massachusetts Institute of Technology. Ele tem trabalhado como Director do Forensic Science Program (Programa de Ciências Forenses) da Western Carolina University e também lecionou Física, Estatística e Ciência Forense. Michael e sua esposa, Amy, fundaram o Grupo de Experimentos Balísticos, em 2001, para estudar incapacitação balística e reconstrução de eventos envolvendo tiroteios.
Endereço de e-mail para contatos com o doutor Michael Courtney no MIT (Massachusetts Institute of Technology):
Michael_Courtney@alum.mit.edu .

Aliás, uma prática constante entre os seguidores do mito messiânico do “Dr.” Fackler é ignorar a Dra. Amy, fazendo de conta que os trabalhos do casal sobre balística terminal que, de passagem, desmascaram completamente o coronel médico são de autoria apenas do Dr. Michael. Tal hipocrisia pode ter relação com a forma como alguns grupos de fanáticos com a mentalidade soterrada nas areias do Oriente Médio encaram as mulheres, mesmo quando sejam especialistas de alto nível: estes simplesmente as ignoram, ainda hoje, no século XXI, e as tratam com desdém e arrogância doentios.

Nos EEUU, mais que em qualquer outro país do planeta, tudo se resolve por meio de “lobbies”. Para entender como surge um mito, uma celebridade sem qualquer talento como Fackler e porque se desfazem as suas carruagens em abóboras da noite para o dia naquele país, tem-se que buscar compreender que tipo de "lobby" havia por trás de seus nomes.

E falando-se especificamente em nomes, o nome "Fackler" tem origem alemã; vem da raiz "vackel" ("tocha") somada ao sufixo formador de adjetivos "-er", e significava "archeiro", “carregador de tochas”, ou algo assim. É, portanto, um sobrenome derivado de uma profissão...

Ainda não sei, de plena certeza, qual "lobby" manteve Fackler em evidência durante certo tempo antes que o mito messiânico que o envolvia começasse a ruir, mas é certo que estão contados os seus dias de escrever impunemente por aí tolices tais como aquela sobre “um tiro de AK-47 e um tiro de arma de mão [genérica] terem a mesma balística terminal”, ou sobre como “a Convenção de Haia teria ‘encomendado’ os calibres FMJ de fuzis e pistolas militares para que estes possam, irrestritamente, ferir sem matar”...

Verdadeiros cientistas e pesquisadores de alto nível estão debruçados hoje sobre a questão do "stopping power" e de seus mecanismos, que giram em torno, segundo eles, do (1) choque hidrostático, da (2) cavidade temporária, e da (3) onda de pressão balística.

É nesses estudos que devemos manter as nossas atenções, se quisermos saber quais são as últimas descobertas da ciência sobre o assunto, cônscios de que, sobre Fackler e a passionalidade que houve em relação à defesa dos seus inusitados e até absurdos pontos-de-vistas, podia existir uma explicação simples que passa pelo "lobbysmo" e ao mesmo tempo pelo sectarismo propiramente dito... algo, portanto, impossível de ser discutido por meios laicos e lógicos.

Uma das falcatruas de Fackler foi tentar invalidar o relatório de Estrasburgo. Tal relatório, que encerra o resultado de testes balísticos com cabras, é de validade científica notória, embora o assunto testes com animais cause muitos problemas e até perseguições para cientistas e pesquisadores na atualidade.

Em função de tais problemas, os responsáveis pelos testes de Estrasburgo procuraram se preservar, e isso rendeu ensejo ao escroque mentalmente desregulado conhecido como "Dr." Fackler para afirmar que o relatório seria fraudulento.

Fackler criou, como figura de "retórica" (e "retórica" de estelionatário, diga-se de passagem), uma comissão do FBI que certamente jamais se reuniu; escreveu que essa comissão fora composta de "seis dos maiores especialistas do mundo" e que tal comissão, inexistente e, portanto, anônima, é óbvio, teria concluído que o relatório de Estrasburgo seria fraudulento pela única razão ser anônimo. Os métodos de Fackler são dessa ordem. Apenas, recapitulando, antes que alguém se perca: o "Dr." Fackler inventou uma comissão fictícia anônima do FBI para dizer que os testes com cabras de Estrasburgo seriam fraudulentos por serem anônimos.

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A FALÁCIA DA LITOTRIPSIA DESMASCARADA PELA CIÊNCIA.

Fackler é novamente humilhado pelos Professores-Doutores May e Michael Courtney:
"exaggerations, logical fallacies, and scientific errors".


É patente o esforço do casal Courtney no trabalho acadêmico intitulado "The Ballistic Pressure Wave Theory of Handgun Bullet Incapacitation" no sentido de não adjetivar Fackler, não ofendê-lo, nem pôr destaque excessivo às suas armações fraudulentas e sempre conduzidas em linguagem furiosa e acusatória.

Entretanto, a falácia da litotripsia é completamente desmascarada pelos cientistas: este tratamento acarreta a ocorrência de ondas de pressão que são capazes de provocar danos a tecidos sim, e o provocam muito frequentemente, ao contrário do que alegava Fackler a fim de sustentar que, por analogia, a onda de pressão balística em estudo não poderia ter efeitos fisiológicos.

Não que a questão da analogia entre a onda de pressão balística e os efeitos da litotripsia tivesse realmente alguma relevância in casu, mas, de toda forma, a premissa seria falsa, pois o tratamento também provoca ondas de pressão de características específicas que causam sim os danos que Fackler desconhecia.

Clique sobre a imagem para ampliá-la.

A argumentação sobre a incapacitação rápida de animais e humanos segue o seu rumo no texto e, pelo caminho, outros desvios de conduta ética de Fackler sem qualquer fundamento científico têm de ir sendo desmentidos, sucintamente, pelos Professores-Doutores.

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Outro desses desvios de conduta de Fackler que merece nota especial respeita à acusação que lança sobre serem as famosas tabelas de “stopping power” criadas pelos policias Marshall e Sanow fraudulentas... Novamente, o coronel médico esbraveja falando em fraude e chega a afirmar sem provas que Marshall e Sanow teriam criado as tabelas estatísticas sem qualquer recurso a cálculos e atendendo a interesses de fabricantes de munição.

Por necessidade imperiosa, então, neste outro trecho do interessantíssmo trabalho acadêmico em que os Professores-Doutores Courtney citam os ícones Marshall e Sanow, também citam Fackler, mas no caso deste, apenas para desmentir aquilo a que chamam de "falácia" pseudo-estátisca lançada pelo coronel médico reformado contra os policiais pesquisadores.

Fackler começou a fezer nome através de tais calúnias (falsas imputações de natureza criminosa) contra Marshall e Sanow. Hoje, Professores-Doutores especialistas em Estatística desmascaram Fackler e seu crime, e enaltecem o valor histórico do trabalho dos policias, provando quem, afinal, é o fraudador inescrupuloso que age com absoluta falta de ética e, dia após dia, é mais vigorosamente repudiado como tal pelo meio acadêmico.

Clique sobre a imagem para ampliá-la.

Nas letras miúdas e sublinhadas por mim, Fackler, sempre furioso, sempre irritadiço ou jocoso, mente afirmando que as estatísticas de Marshall e Sanow seriam forjadas...

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DISCURSO ESSENCIALMENTE DESARMAMENTISTA.

Ainda que Fackler não se declare desarmamentista, o seu discurso sobre a ausência de “stopping power” nos calibres de munição é essencialmente desarmamentista. Ora, por quê? Porque se não houvesse como incapacitar o oponente com disparos de munição, disparos de munição tornar-se-iam inúteis e até ilegais. Apenas em campo de batalha, por força do que um Fackler nitidamente paranóide encara como a “conspiração de paz de Haia de 1899” (vide artigo “O Atentado de Stockton e a Letalidade do 7.62x39mm”) haveria emprego para armas, e armas com munição FMJ: estas serviriam, segundo o coronel médico, para ferir sem matar, o que de fato é ilegal na guerra como comenta, mas “eles” (“os de Haia”) fariam uma vista grossa para isso...

Repercussões do atentado de Stockton e dos discursos sensacionalistas-desarmamentistas que o seguiram, inclusive o de Fackler:

”In California, measures were taken to first define and then ban assault weapons, resulting in the Roberti-Roos Assault Weapons Act. On the Federal level, Congress struggled with a way to ban weapons like Purdy's military-style semi-automatic rifle without also including semi-automatic hunting rifles. In the end, Congress defined "assault weapons" as semi-automatic weapons with certain military-style secondary features such as flash suppressors, bayonet lugs, and pistol grips. These were banned in the Federal assault weapons ban, enacted in 1994, which expired in 2004. President George H. W. Bush signed an executive order banning importation of assault weapons in 1989. President Bill Clinton signed another executive order in 1994 which banned importation of most firearms and ammunition from China”.

http://en.wikipedia.org/wiki/Cleveland_School_massacre#Repercussions

Em suma: os rifles que, segundo Fackler, calçariam as munições incapazes de incapacitar, tornaram-se os "bandidos" da história, e, já que a arma usada no atentado viera da China, proibiram-se, pois, as armas e munições chinesas... Essas providências espelham perfeitamente o que se pode chamar de raciocínio desarmamentista clássico.

Assim, contrariando o princípio racional plasmado no enunciado “si vis pacem parabellum” popularizado pelo tratadista romano Publius Flavius Vegetius Renatus, o mito messiânico do “Dr.” Fackler resolve-se num mito desarmamentista que tende a livrar a humanidade do mal das armas de fogo inúteis para incapacitar e de suas munições que apenas ferem cruelmente de modo ilegal e desumano...