quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Mito Messiânico do "Dr." Fackler



Para início, Fackler é tão doutor quanto qualquer advogado, dentista, engenheiro ou médico com formação de terceiro grau. A tradição de chamarem-se bacharéis nessas áreas de “doutores” perpassa diversos países. Entretanto, quando se opõem as estranhas considerações de Fackler sobre armas e munições a trabalhos científicos levados a cabo por Professores-Doutores, a primeira impressão errônea que sobrevém é a de que o coronel médico reformado Martin Fackler tenha douramento no que quer que seja. Ora, a “controvérsia acadêmica” havida entre um bacharel em Medicina com um diploma bastante antigo e uma PhD em Medicina por Harvard com um currículo do quilate do que ostenta a Dra. Amy Courtney, por exemplo, é tão válida e relevante quanto uma controvérsia que possa surgir em sala de aula entre um aluno de primeiro grau e um professor com graduação em Ciências Biomédicas. De fato, não há controvérsia acadêmica possível.

Apenas à guisa de ilustração, vejamos que espécie de formação possui a Professora-Doutora Amy Courtney:

Tradução do subtítulo "Sobre os Autores" ("About the Authors") do texto científico "The Ballistic Pressure Wave Theory of Handgun Bullet Incapacitation".

Sobre os autores
Amy Courtney serve atualmente na faculdade da Academia Militar Norte-Americana de West Point. Ela obteve mestrado em Engenharia Biomédica pela Universidade de Harvard e Doutorado em Engenharia Médica e Medicina Física por um programa conjunto Harvard / MIT (Massachusetts Institute of Technology). Lecionou Anatomia e Fisiologia, bem como Física. Serviu como cientista pesquisadora na Cleveland Clinic e na Carolina Western University, bem como na faculdade de Engenharia Biomédica do Estado de Ohio.
Endereço de email para contatos com a doutora na Universidade de Harvard:
Amy_Courtney@post.harvard.edu

Some-se a esse gigantesco desnível acadêmico em relação ao pobre Fackler o fato de que a Professora-Doutora Amy escreve a quatro mãos com o também Professor-Doutor Michael Courtney, seu marido, cujo currículo não fica abaixo do dela:

Michael Courtney obteve PhD em Física Experimental pelo Massachusetts Institute of Technology. Ele tem trabalhado como Director do Forensic Science Program (Programa de Ciências Forenses) da Western Carolina University e também lecionou Física, Estatística e Ciência Forense. Michael e sua esposa, Amy, fundaram o Grupo de Experimentos Balísticos, em 2001, para estudar incapacitação balística e reconstrução de eventos envolvendo tiroteios.
Endereço de e-mail para contatos com o doutor Michael Courtney no MIT (Massachusetts Institute of Technology):
Michael_Courtney@alum.mit.edu .

Aliás, uma prática constante entre os seguidores do mito messiânico do “Dr.” Fackler é ignorar a Dra. Amy, fazendo de conta que os trabalhos do casal sobre balística terminal que, de passagem, desmascaram completamente o coronel médico são de autoria apenas do Dr. Michael. Tal hipocrisia pode ter relação com a forma como alguns grupos de fanáticos com a mentalidade soterrada nas areias do Oriente Médio encaram as mulheres, mesmo quando sejam especialistas de alto nível: estes simplesmente as ignoram, ainda hoje, no século XXI, e as tratam com desdém e arrogância doentios.

Nos EEUU, mais que em qualquer outro país do planeta, tudo se resolve por meio de “lobbies”. Para entender como surge um mito, uma celebridade sem qualquer talento como Fackler e porque se desfazem as suas carruagens em abóboras da noite para o dia naquele país, tem-se que buscar compreender que tipo de "lobby" havia por trás de seus nomes.

E falando-se especificamente em nomes, o nome "Fackler" tem origem alemã; vem da raiz "vackel" ("tocha") somada ao sufixo formador de adjetivos "-er", e significava "archeiro", “carregador de tochas”, ou algo assim. É, portanto, um sobrenome derivado de uma profissão...

Ainda não sei, de plena certeza, qual "lobby" manteve Fackler em evidência durante certo tempo antes que o mito messiânico que o envolvia começasse a ruir, mas é certo que estão contados os seus dias de escrever impunemente por aí tolices tais como aquela sobre “um tiro de AK-47 e um tiro de arma de mão [genérica] terem a mesma balística terminal”, ou sobre como “a Convenção de Haia teria ‘encomendado’ os calibres FMJ de fuzis e pistolas militares para que estes possam, irrestritamente, ferir sem matar”...

Verdadeiros cientistas e pesquisadores de alto nível estão debruçados hoje sobre a questão do "stopping power" e de seus mecanismos, que giram em torno, segundo eles, do (1) choque hidrostático, da (2) cavidade temporária, e da (3) onda de pressão balística.

É nesses estudos que devemos manter as nossas atenções, se quisermos saber quais são as últimas descobertas da ciência sobre o assunto, cônscios de que, sobre Fackler e a passionalidade que houve em relação à defesa dos seus inusitados e até absurdos pontos-de-vistas, podia existir uma explicação simples que passa pelo "lobbysmo" e ao mesmo tempo pelo sectarismo propiramente dito... algo, portanto, impossível de ser discutido por meios laicos e lógicos.

Uma das falcatruas de Fackler foi tentar invalidar o relatório de Estrasburgo. Tal relatório, que encerra o resultado de testes balísticos com cabras, é de validade científica notória, embora o assunto testes com animais cause muitos problemas e até perseguições para cientistas e pesquisadores na atualidade.

Em função de tais problemas, os responsáveis pelos testes de Estrasburgo procuraram se preservar, e isso rendeu ensejo ao escroque mentalmente desregulado conhecido como "Dr." Fackler para afirmar que o relatório seria fraudulento.

Fackler criou, como figura de "retórica" (e "retórica" de estelionatário, diga-se de passagem), uma comissão do FBI que certamente jamais se reuniu; escreveu que essa comissão fora composta de "seis dos maiores especialistas do mundo" e que tal comissão, inexistente e, portanto, anônima, é óbvio, teria concluído que o relatório de Estrasburgo seria fraudulento pela única razão ser anônimo. Os métodos de Fackler são dessa ordem. Apenas, recapitulando, antes que alguém se perca: o "Dr." Fackler inventou uma comissão fictícia anônima do FBI para dizer que os testes com cabras de Estrasburgo seriam fraudulentos por serem anônimos.

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A FALÁCIA DA LITOTRIPSIA DESMASCARADA PELA CIÊNCIA.

Fackler é novamente humilhado pelos Professores-Doutores May e Michael Courtney:
"exaggerations, logical fallacies, and scientific errors".


É patente o esforço do casal Courtney no trabalho acadêmico intitulado "The Ballistic Pressure Wave Theory of Handgun Bullet Incapacitation" no sentido de não adjetivar Fackler, não ofendê-lo, nem pôr destaque excessivo às suas armações fraudulentas e sempre conduzidas em linguagem furiosa e acusatória.

Entretanto, a falácia da litotripsia é completamente desmascarada pelos cientistas: este tratamento acarreta a ocorrência de ondas de pressão que são capazes de provocar danos a tecidos sim, e o provocam muito frequentemente, ao contrário do que alegava Fackler a fim de sustentar que, por analogia, a onda de pressão balística em estudo não poderia ter efeitos fisiológicos.

Não que a questão da analogia entre a onda de pressão balística e os efeitos da litotripsia tivesse realmente alguma relevância in casu, mas, de toda forma, a premissa seria falsa, pois o tratamento também provoca ondas de pressão de características específicas que causam sim os danos que Fackler desconhecia.

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A argumentação sobre a incapacitação rápida de animais e humanos segue o seu rumo no texto e, pelo caminho, outros desvios de conduta ética de Fackler sem qualquer fundamento científico têm de ir sendo desmentidos, sucintamente, pelos Professores-Doutores.

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Outro desses desvios de conduta de Fackler que merece nota especial respeita à acusação que lança sobre serem as famosas tabelas de “stopping power” criadas pelos policias Marshall e Sanow fraudulentas... Novamente, o coronel médico esbraveja falando em fraude e chega a afirmar sem provas que Marshall e Sanow teriam criado as tabelas estatísticas sem qualquer recurso a cálculos e atendendo a interesses de fabricantes de munição.

Por necessidade imperiosa, então, neste outro trecho do interessantíssmo trabalho acadêmico em que os Professores-Doutores Courtney citam os ícones Marshall e Sanow, também citam Fackler, mas no caso deste, apenas para desmentir aquilo a que chamam de "falácia" pseudo-estátisca lançada pelo coronel médico reformado contra os policiais pesquisadores.

Fackler começou a fezer nome através de tais calúnias (falsas imputações de natureza criminosa) contra Marshall e Sanow. Hoje, Professores-Doutores especialistas em Estatística desmascaram Fackler e seu crime, e enaltecem o valor histórico do trabalho dos policias, provando quem, afinal, é o fraudador inescrupuloso que age com absoluta falta de ética e, dia após dia, é mais vigorosamente repudiado como tal pelo meio acadêmico.

Clique sobre a imagem para ampliá-la.

Nas letras miúdas e sublinhadas por mim, Fackler, sempre furioso, sempre irritadiço ou jocoso, mente afirmando que as estatísticas de Marshall e Sanow seriam forjadas...

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DISCURSO ESSENCIALMENTE DESARMAMENTISTA.

Ainda que Fackler não se declare desarmamentista, o seu discurso sobre a ausência de “stopping power” nos calibres de munição é essencialmente desarmamentista. Ora, por quê? Porque se não houvesse como incapacitar o oponente com disparos de munição, disparos de munição tornar-se-iam inúteis e até ilegais. Apenas em campo de batalha, por força do que um Fackler nitidamente paranóide encara como a “conspiração de paz de Haia de 1899” (vide artigo “O Atentado de Stockton e a Letalidade do 7.62x39mm”) haveria emprego para armas, e armas com munição FMJ: estas serviriam, segundo o coronel médico, para ferir sem matar, o que de fato é ilegal na guerra como comenta, mas “eles” (“os de Haia”) fariam uma vista grossa para isso...

Repercussões do atentado de Stockton e dos discursos sensacionalistas-desarmamentistas que o seguiram, inclusive o de Fackler:

”In California, measures were taken to first define and then ban assault weapons, resulting in the Roberti-Roos Assault Weapons Act. On the Federal level, Congress struggled with a way to ban weapons like Purdy's military-style semi-automatic rifle without also including semi-automatic hunting rifles. In the end, Congress defined "assault weapons" as semi-automatic weapons with certain military-style secondary features such as flash suppressors, bayonet lugs, and pistol grips. These were banned in the Federal assault weapons ban, enacted in 1994, which expired in 2004. President George H. W. Bush signed an executive order banning importation of assault weapons in 1989. President Bill Clinton signed another executive order in 1994 which banned importation of most firearms and ammunition from China”.

http://en.wikipedia.org/wiki/Cleveland_School_massacre#Repercussions

Em suma: os rifles que, segundo Fackler, calçariam as munições incapazes de incapacitar, tornaram-se os "bandidos" da história, e, já que a arma usada no atentado viera da China, proibiram-se, pois, as armas e munições chinesas... Essas providências espelham perfeitamente o que se pode chamar de raciocínio desarmamentista clássico.

Assim, contrariando o princípio racional plasmado no enunciado “si vis pacem parabellum” popularizado pelo tratadista romano Publius Flavius Vegetius Renatus, o mito messiânico do “Dr.” Fackler resolve-se num mito desarmamentista que tende a livrar a humanidade do mal das armas de fogo inúteis para incapacitar e de suas munições que apenas ferem cruelmente de modo ilegal e desumano...



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