quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um “joguinho” para o RT .36 ga “Judge”



O revólver Taurus Judge é uma arma incomum que soa versátil e imponente, mas poucos sabem o que fazer com essa vesatilidade tática.

Pensei no “jogo” que se segue, após ter visto, através de vídeos, o grande mestre da arte marcial russa Systema Vladimir Vasiliev empregar a tática de dar rolamento para trás e ir para o chão com a sua arma, mantendo a empunhadura dupla, a fim de se livrar de dois agressores com armas brancas que se acercavam dele. E, quando mencionei o expediente por alto pela primeira vez, em uma comunidade do Orkut, o nosso amigo agente federal "Mr." apareceu para comentar que já havia praticado o tiro com as costas apoiadas sobre o solo, durante o seu treinamento na Polícia Rodoviária Federal "Mr." foi da PRF antes de entrar para a PF.

O chumbo 3T para defesa tem defensores há muito tempo, mas há também quem o contra-indique com propriedade em razão do baixo poder de parada (“stopping power”) observado. Entrementes, o potencial de parar de uma munição pode ser entendido de forma mais ampla que apenas em relação aos efeitos dinâmicos, ou temporários, do disparo. Tiros de chumbo 3T que atinjam frontes têm uma grande probabilidade de perfurar olhos, incapacitando de pronto, e é muito fácil acertar, a distâncias defensivas típicas, a fronte de um agressor armado com esse tipo de munição.

Destarte, o nosso pequeno “caminho”, realmente muito simples, começa, com a utilização da munição de .36 ga chumbo 3T nas duas primeiras câmaras ou em todo o tambor, sendo que policiais têm licença para utilizar, facultativamente, o .44-40 Win, calibre com excelente poder de parada, nas três últimas câmaras.

Quando o agressor esteja muito próximo, exibindo arma branca ou de fogo e, não atenda ao comando para se imobilizar e largar a arma, em se observando, por exemplo, que está sob efeito de alucinógenos, este pode ser alvejado na fronte como última medida, devendo o legítimo defendente, em seguida ao disparo ou disparos, rolar para trás, de modo a sair da linha de tiro ou do alcance da faca do alvejado. O Judge com cano de alma lisa, por apresentar recuo reduzido, permite a utilização de uma seqüência de dois tiros rápidos, quase um “double tap”, contra a fronte do agressor antes da evasão, mesmo que se tenha uma munição de projéteis múltiplos e outra de projétil singular na câmara da vez e na seguinte. Ao rolar para trás, prepare-se a guarda com as pernas para parar uma possível investida às cegas por parte do agressor alvejado; se este vier direto para a guarda, será o momento de se o travar, pondo um “ganchinho” na sua virilha, e o derrubar –- ou "raspar" –- puxando o seu calcanhar. Pode-se, então, partir para a montada, de modo a imobilizá-lo, ou deixar um agressor que ainda esteja com a faca nas mãos cair sozinho para o render. Observe-se que aqui se tem inúmeras opções: por exemplo, um agressor difícil de "raspar", mesmo depois de alvejado na fronte, pode ser facilmente atingido na sua genitália com um pisão de baixo para cima antes de ser derrubado, ou mesmo alvejado novamente, e, desta vez, à queima-roupa, sobre o joelho.


Igor Buys, 25 de julho de 2010. Texto escrito, originariamente, para a comunidade Armas de Fogo, do Orkut.




O belo Taurus "Raging Judge Ultra-Lite",
de sete câmaras, lançado no SHOT Show 2010:


.38-200 Spl: um “manstopper” de uso permitido

 


As dimensões do cartucho de .38 Spl são bastante latas em relação à quantidade de energia que este calibre normalmente libera. E digo “normalmente” porque todos conhecemos aquelas recargas “quentes” de .38 que, de fato, estão mais para .357 Magnum.
No cartucho de 29.3mm de comprimento do velho .38 S&W Spl, com conhecimento de causa e criatividade suficientes, pode-se caber todos os atributos de um perfeito “manstopper” sem deixar de observar a legislação atual. É claro que obter esse mesmo resultado afrontando o limite de energia previsto no R-105 para armas curtas destinadas à defesa seria muito mais fácil, mas, então, teríamos apenas mais uma recarga “quente” de .38 Spl entre as tantas conhecidas, as quais não podem ser empregadas em defesa pessoal por força de vedação legal e, ainda, apresentam recuo acentuado para principiantes.
Proponho neste artigo o desenvolvimento de um “wildcat” que pode ser considerado um híbrido entre o .38 S&W Spl e o .38-200 governamental britânico, este um calibre surgido no começo do século passado que caiu em desuso. A tal híbrido chamaríamos, pois, de .38-200 Spl.

O .38-200, também designado .380-200, levava estojos de 19.7mm e pontas alongadas que conferiam ao cartucho de munição 31.5mm de comprimento total. Concebido durante um período áureo de buscas por calibres que transferissem bem a energia carregada nos projéteis de modo a lograr alto poder de parada, o .38-200, todavia, falhava em perfurar e em incapacitar por conta de um erro referente ao cômputo da sua força de impacto e perfuração – FIP. Embora os ingleses abraçassem a boa filosofia dos calibres “lentos e pesados”, neste caso, reduziu-se em excesso a velocidade dos projéteis, a fim de mitigar o recuo sentido pelos atiradores. As balas atravessavam a boca do cano a 190m/s: um patamar deveras muito baixo. A FIP obtida não passava, destarte, de parcos 2.47 kg.m/s.

Por outro lado, a idéia de um .357 de 200 grains era muito boa. Um dos paradigamas de excelência em relação a poder de parada (“stopping power”) com que trabalho é dado pelo .45ACP. O Tet.-Cel. fuzileiro naval norte-americano João Cooper, por exemplo, defendia o .45ACP de 230 grains da Hornady, ponta plana, como munição ideal para a defesa pessoal e ele sabia o que dizia. Entrementes, este calibre, primeiro: vem a ser nominalmente restrito no País; segundo: libera energia em quantidade restrita para armas curtas destinadas à defesa; terceiro: tem um recuo relativamente pronunciado para principiantes quando disparado de armas compactas.

O .45 ACP de 230 grains da Hornady alcança velocidade de 250m/s à boca do cano de uma pistola modelo 1911, liberando, para tanto, algo entre 470 e 480 joules de energia [dados a confirmar]. Ora, para manter um grau de excelência em poder de parada com recuo ligeiramente menor, podemos nos perguntar: que quantidade de energia seria necessária para propelir uma ponta de .357 polegadas de diâmetro e 200 grains de massa a 250m/s de um cano de revólver de quatro polegadas?

A resposta, segundo os nossos cálculos, apontaria para algo como 406 Joules: um número que excede o limite de 405 Joules estabelecido no R-105 por um triz. Vê-se que o patamar de energia em questão não é tão exíguo quanto se poderia supor em face das tantas reclamações que se consignam na atualidade: ainda que a legislação não impusesse tal restrição, para este projeto específico, eu não me valeria de mais do que algo entre 405 e 410 Joules. Num próximo artigo, poderemos discutir as bases de um .38 (ou .357) de 230 ou 250 grains para atender às necessidades de usuários seniores, mas, por ora, os parâmetros iniciais de um “manstopper” definitivo, de uso permitido no Brasil e voltado para o perfil do usuário mediano estão perfeitamente delineados, ao meu ver, como se segue.


Para fazer o ajuste dos parâmetros ao disciplinado no R-105, se os meus cálculos preliminares já estiverem corretos, a velocidade inicial, à boca do cano, deve ser de no máximo 249m/s, conforme o quadro.


Primeiras especulações sobre uma munição de .38-200 com Vi de 250m/s
:

Especificações: 13 gramas (200 grains); 250m/s.
FIP = 13 x 250 : 1000
FIP = 3.25 kg.m/s
Energia de, aproximadamente, 406.25 joules
Parâmetros ajustados para atender ao R-105:

Espcificações: 13 gramas (200 grains); 249m/s.
FIP = 13 x 249m/s : 1000
FIP = 3.237 kg.m/s
Energia de, aproximadamente, 403 joules


Quantificada a FIP das munições, podemos comparar o desempenho potencial de uma em relação ao de outra com pontas da mesma espécie de modo muito mais fiel à realidade do que seria possível através de qualquer equação que leve em conta a quantidade de energia ao invés da quantidade de movimento. O mesmo se diga de procedimentos experimentais em gel ou qualquer outro meio artificial de prova. Ponha-se reparo, inclusive, no fato de que o cômputo da quantidade de movimento dos projéteis é parte da equação do "relative stopping power" em todas as suas variantes desde Hatcher. No quadro a seguir, alguns paradigmas comparativos que situam o desempenho potencial dos calibres em questão frente a outros nacionais e importados.


Comparação com outras munições empregadas em defesa / serviço policial:

9x19mm HS Federal (147 grains ou 9.52 gramas)
FIP
= 2.89 kg.m/s

.45 GAP HS Federal (230 grains ou 14.90 gramas)
FIP
= 3.99 kg.m/s

.40 S&W CBC Gold (
155 grains ou 10 gramas)
FIP =
3.64 kg.m/s

.40 S&W CBC Copper (
130 grains ou 8.42 gramas)
FIP =
3.05 kg.m/s

5.56x45mm OTAN SS109 (62 grains ou 4 gramas)
FIP = 3.76 kg.m/s

Levei a debate o desenvolvimento de um .38-200 Spl na nossa comunidade do Orkut, onde o atirador Jorge Wiendl teceu considerações preliminares sobre pressão e propelente. Eu ainda não havia feito a pesquisa sobre propelentes a empregar e, até o momento, continuo sem ter feito, mas este artigo tende a ser atualizado no principal endereço da internet onde será postado, que é o nosso blog ||ARMAS DE FOGO E MUNIÇÕES||.

Eis uma parte da plataforma que Wiendl esboçou, então, a grosso modo:


“Pressão de trabalho: dentro das especificações da SAAMI.

Pólvora: Nacional BS ou mesmo BD que melhor atenda as especificações.

Espoletas: Small Pistol ou Small Pistol Magnum (vai depender do desempenho de cada uma).”

                                                                                          Jorge Wiendl


O policial civil Erick T., de São Paulo, outro fundo conhecedor, mencionou uma recarga de .38 Spl com ponta de 200 grains desenvolvida nos anos oitenta por Zeca Mathias, a qual procurava ser uma cópia do .38 Super Police:



"Nos anos 80 meu amigo Zeca Mathias fez uns testes para a revista Magnum, incluindo recarga para 'snubbies' com projétil de 200 grains - reproduzindo a carga 'Super Police' dos anos 60.

Infelizmente, não tenho mais a revista, mas lembro-me que o recuo dessa carga era brutal...

Possivelmente teríamos algo próximo a um .44 Special com maior penetração, devido ao menor diâmetro do projétil."

                                                                                                          Erick T.


Sobre um estilo especial de projétil para o nosso .38-200 Spl.


O formato alongado do projétil do .38-200 governamental britânico, que irá inspirar o do nosso por força, encerra uma vantagem excepcional num calibre de arma curta: favorece os efeitos de tombamento e fragmentação os quais aumentam de modo assombroso a medida matemática do poder de parada (“stopping power”) aferido em termos hatcherianos puros.

Tombamento e fragmentação são praticamente duas quimeras em balística: os estadunidenses gastaram décadas e vidas em número incerto seguindo os passos de uma “lady luck” chamada 5.56x45mm. Quando os efeitos em questão são observados, o .22 de quatro gramas dos fuzis norte-americanos consegue apresentar níveis deveras interessantes de poder de parada, mas isso só ocorre eventualmente e a distâncias bem menores do que as desejáveis num fuzil.

Os russos, que tiveram no M43 do AK-47, durante toda a Guerra Fria, um calibre marcadamemente superior para uma arma desmesuradamente melhor que os frágeis rifles da família AR-15 / M-16 / M-4, mais uma vez humilharam profundamente a alma e a honra nacionais estadunidenses ao desenvolver pontas de tombamento controlado para o seu 5.45x39mm, nos anos setenta do século passado.

O segredo das pontas do terrível calibre do AK-74, chamadas pelos estadunidenses, desde a Guerra do Afeganistão (1979-1989), de “poison bullets” por conta dos desenhos que descrevem dentro do alvo, está, sobretudo, numa área vazada entre a extremidade do projétil e a camisa que o reveste. Uma vez que sofra deformação plástica quando da interação com o alvo, essa parte dianteira do projétil o guia num trajeto oblíquo em relação à sua trajetória externa: e eis o que vem a ser o efeito de tombamento. A fragmentação, quando ocorre, é decorrente, por sua vez, desse capotar do projétil alongado dentro do alvo mole, meio denso o bastante para rachá-lo e parti-lo.
Conseguir fazer com que a ponta de 200 grains do calibre aqui idealizado tombe controladamente irá conferir ao nosso “manstopper” um desempenho ainda mais potencializado, visto que tal efeito, em nível acentuado o bastante para ser digno de nota, não costuma ocorrer em relação a projéteis curtos de armas de mão ["handguns"]. O revestimento deve ser macio o bastante para evitar picos excessivos de pressão no interior do cano, já que estamos trabalhando com um projétil pesado e de superfície lateral ampla, o que importa em ampla área de atrito com o raiamento.

A minha idéia inicial é a de ter-se uma bala de ponta plana em chumbo não endurecido revestida de uma camisa de latão terminada em ogiva, de modo que surja uma área vazada entre esta e a extremidade chata do núcleo. A área vazada não deve ser mais ampla que o necessário para provocar um trajeto dentro do alvo que seja oblíquo em relação ao eixo da linha de tiro, o que garante um tombamento controlado.

Visão esquemática em corte de um cartucho de munição de 5.45x39mm
Vale ressaltar que os estadunidenses, numa resposta tardia ao 5.45x39mm governamental russo, estão usando, no Oriente Médio, pontas com uma ampla área vazada na extremidade dianteira, o que tem provocado críticas veementes: o projétil do 5.56x45mm SOST explode contra o alvo à maneira de um saco de papel cheio de ar em que se venha a bater com a palma da mão... O resultado é um grande dano superficial ao alvejado que, se imitado por um calibre de uso civil, poderia acarretar uma proibição indesejada. Como ilustração, haja vista a foto seguinte de um animal supostamente atingido por pontas do tipo “match” em que se baseia o 5.56 SOST:

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Espingardas Benelli M3T ("tatical") e M3 Super 90

 

Este tópico foi sugerido na nossa comunidade do Orkut pelo membro novo Delgado.



As espingardas Benelli M3, calibre 12, são baseadas num sistema de operação patenteado pela empresa e desenvolvido nos anos oitenta para ser empregado primeiro na Benelli M1.

Esse sistema aproveita a massa do transportador do ferrolho, que tende para a inércia, para fazer ciclar o sistema de alimentação e engatilhar a arma quando operada em modo semiauto. O trancamento da cabeça do ferrolho é rotativo e leva dois ressaltos. Duas molas cooperam no movimento: a mola inercial, que age sobre o transportador do ferrolho, retirando-o da inércia, e a mola de recuo, postada na coronha. O sistema é simples, incluindo poucas peças, robusto e de fácil manutenção, o que rendeu ao projeto, que eu saiba até o momento, algum emprego policial em países europeus e adoção por algumas unidades do exército francês.

Para tiros com munição de carga reduzida, não-letal, por exemplo, pode-se alimentar as câmaras dos modelos M3 manualmente ("pump action") graças a outro sistema patenteado pela Benelli.
Sistema de seleção de modos de operação das Benelli M3
(clique sobre a imagem para vê-la ampliada):



A geração seguinte de espingardas semiautomáticas em 12 ga fabricadas pela Benelli, M4 Super 90 e M1012 JSCS, não incorpora mais o sistema de ação descrito, ciclando com ação de gases sobre pistão.


Em termos mais explicativos, o sistema de operação das Benelli M3 funciona da seguinte forma:

1 - com o disparo, a arma recua, mas o transportador do ferrolho tende a ficar inerte no começo do movimento;

2 - a massa do transportador, então, comprime a mola de inércia postada entre o transportador e a cabeça do ferrolho;

3 - comprimida, a mola impele a cabeça do ferrolho para frente e esta gira e avança ligeiramente, destrancando-se do cano;

4 - agora o conjunto está destrancado e a mola de inércia ainda mais tencionada para retirar o transportador da inércia: tem início, assim, o movimento do transportador do ferrolho em direção à culatra. Este movimento corresponde exatamente à manobra manual sobre as telhas que não será necessária aqui: a cápsula vazia é automaticamente ejetada e o percussor engatilhado;

5 - quando o conjunto retorna à posição inicial, impelido pela mola de recuo postada na coronha da arma, a mola de inércia é novamente comprimida, fazendo com que a cabeça do ferrolho avance ligeiramente, girando e trancando-se de novo ao cano. Está encerrado o primeiro ciclo.

Entretanto, esse sistema de ação já existia na Benelli M1 e o que torna a M3 diferente da M1 é tão-só o sistema que se vê na imagem acima: o seletor de modos de ação, que permite ao atirador optar entre a ação semiautomática ou a manual.

Como funciona aquele sistema?

Bem, na foto à esquerda, vê-se a frente da arma com a mola inercial livre para executar o trabalho que tira o transportador do ferrolho da inércia, nos termos descritos acima.

Na foto à direita, a mola aparece comprimida e o transportador trancado à cabeça do ferrolho por fora por um fecho. Com a mola nessa posição, o transportador do ferrolho não tenderá para a inércia, recuando junto com a arma, e será necessária, portanto, a operação manual para ejetar o cartucho vazio e engatilhar a espingarda.



Minha crítica do sistema das espingardas Benelli M1/M3


Gostaria de poder fazer esta crítica com base em algum relato de operadores das armas em questão, mas, a falta disso, vou-me basear em especulação pura.

O sistema é cativante e limpo, executa um movimento complexo, com um trancamento rotativo inclusive, utilizando para isso apenas o recuo da arma e a inércia do transportador.

É possível que o sistema de ação em questão seja até bem confiável quando a arma for operada em posição horizontal em relação ao solo. Entretanto, antes mesmo de testá-la, analisando apenas a sua descrição, fica difícil de acreditar que essa ação possa funcionar a contento com a arma inclinada para disparar de cima para baixo ou de baixo para cima. Num tiro de cima para baixo, a gravidade irá tornar o transportador possivelmente pesado demais para o trabalho e bem assim num tiro ao prato, por exemplo, inclinado para cima. E esse problema tende a se agravar quando a arma não esteja perfeitamente limpa. É claro que uma regulagem para tiro em ângulo inclinado poderia ser tentada, mas isso implicaria em possíveis problemas para o tiro horizontal em relação ao solo.

Embora o exército francês tenha adotado a M3T, o sistema não está passado em julgado e a opção dos norte-americanos pela M4, de operação a gás, que demanda limpeza constante, indica possíveis problemas com a ação por recuo e inércia das Benelli anteriores.


domingo, 27 de setembro de 2009

VBR-Belgium 5.7x28mm B2F 40 e o Conceito de Fragmentação Controlada




A munição de 5.7x28mm SS109 da metralhadora FN P90 e da pistola FN Five Seven, projetada para romper blindagens corporais, leva projéteis de pouca massa e diminuto diâmetro o que importa em baixíssimo poder de parada. Teoricamente, o comprimento do projétil alongado da munição de 5.7x28mm, em ocorrendo o efeito de tombamento, garantiria grandes cavidades permanentes e possíveis ondas de choque e pressão capazes de incapacitar rapidamente. Entretanto, sabemos que o efeito de tombamento (ou capotagem), conquanto desejável, nem sempre acontece na prática. Aqueles que dependeram de tombamento e fragmentação para ter algum “stopping power” garantido nos disparos com munição de 5.56x45mm OTAN morreram muitas vezes com seus rifles nas mãos, mesmo depois de terem efetuado disparos certeiros no peito dos seus oponentes nos teatros de operações pelo mundo afora e nas incursões policiais em áreas dominadas pelo crime organizado.

Para sanar esse problema da imprevisibilidade da ocorrência dos efeitos de tombamento e fragmentação em relação à munição de 5.7x28mm SS109, a VBR-Belgium desenvolveu a tecnologia de fragmentação controlada de projéteis.

A munição de 5.7x28mm é utilizada na pistola belga FN Five Seven, que se cogitava ser a arma de uso pessoal do ex-presidente estadunidense George W. Bush e se vê na foto ao lado. Este calibre ganhou a fama de “cop killer” e foi proibido há vários anos nos Estados Unidos.


Dividido em duas partes ligadas por um eixo delgado as quais tendem fortemente a tombarem e se desprenderem uma da outra após o impacto com o alvo, seguindo rumos distintos no interior deste, o projétil alongado de apenas 40 grains (2.59 gramas) da munição VBR-Belgium 5.7 B2F 40 provoca cavidades permanentes mais amplas que o da 5.7x28mm SS109. As ondas de choque hidrostático e pressão que decorreriam do processo de fragmentação controlada de projéteis tenderiam, então, a incapacitar oponentes mais rapidamente. Esta característica garantiria à munição algum poder de parada e a tornaria adequada à defesa pessoal, segundo os prospectos da brilhante fabricante belga de munições.


O BOPE, do Rio de Janeiro, possui algumas unidades da submetralhadora FN P90 em 5.7x28mm.


Assim, depois de romper blindagens corporais, a munição não faria apenas feridas nem causaria a morte após longos minutos ou horas dentro dos quais o alvejado permanece capaz de atirar e causar grandes danos.


Munição VBR-Belgium 5.7x28mm B2F 40.

A VBR-Belgium lançou também munições em 4.6x30mm com projéteis desenvolvidos para tombarem (ou capotarem) e se fragmentarem controladamente dentro do alvo de modo análogo ao visto em relação à munição 5.7x28mm B2F 40. Falamos da configuração 4.6 B2F do calibre alemão usado na submetralhadora HK MP7 e na pistola HK UCP.

Como bônus em relação a essa linha de estudos, outro tipo de fragmentação controlada de projéteis vem sendo utilizado em munições especiais da VBR-Belgium que tendem a corrigir a margem estatísticas de erros decorrentes de uma posição de tiro contrafeita, sem boa base, sem empunhadura ou postura corporal ideais. Os erros causados pela dificuldade que cidadãos civis, diferente dos operacionais, geralmente enfrentam ao ter que lidar com controle de ansiedade em situações de defesa são da mesma forma compensados e, por fim, a munição é tida como ideal para que pessoas com pouca experiência e adestramento em tiro possam se defender de agressões. Destarte, o conceito conflui para o mesmo tipo de resultado vislumbrado em relação ao desempenho balístico do RT .410 “Judge”.


Efeito da munição VBR-Belgium 5.7x28mm B2F 40 em gelatina balística. Vê-se, bem ao centro, o ponto de capotagem (onde se forma a "tumbling zone") e fragmentação, e, a patir dali, as trajetórias divergentes das duas partes do projétil, formando um "Y".


Uma dessas munições para defesa pessoal da empresa belga requer o uso combinado de um kit de conversão para pistolas Glock 17, 19 e 26. Trata-se da VBR-Belgium 7.92x24mm S-3P, notação dentro da qual “S” significa “Shotgun”.

Os projéteis destas munições se fragmentam controladamente em três partes ainda fora do alvo, podendo atingi-lo em até três pontos distintos. No vídeo abaixo, vê-se como funciona o conceito e o seu efeito a 4, 7 e 10 metros.




Este mesmo tipo de fragmentação controlada, que funciona tanto em canos raiados como em canos de alma lisa, é utilizado para transformar revólveres de caça no calibre .44 Magnum em armas adequadas à defesa residencial, segundo a fabricante.

Na foto abaixo, vê-se um belo Smith&Wesson modelo 29 ao lado de um remuniciador com munições .44 Magnum CF3.

O forte da VBR-Belgium continua sendo as munições AP com “sabots” em .45 ACP e 9mm PARA, contudo, o ideal de “consertar” a munição de 5.7x28mm SS190, se não chegou ainda ao seu apanágio, parece estar muito próximo disto com a munição VBR-Belgium 5.7x28mm B2F 40, e os fundamentos deste "conserto" poderão, ainda, ser aproveitados em outros calibres que apresentam o mesmo tipo de limitação.


sábado, 19 de setembro de 2009

Uma Atualização do FAL Pela Via da Munição II



No artigo homônimo deste publicado em 12 de dezembro de 2008, esperávamos poder usar na mesma arma, sem qualquer modificação, duas munições de cargas distintas, levando em conta que o FAL opera com pressões bem superiores à necessária para fazê-lo ciclar e esta é uma das características que garantem a sua esplêndida e decantada robustez.

Hoje, nove meses depois, surgiram vozes divergentes em relação à perspectiva que abrimos, mas ainda não foi testada na arma a carga reduzida proposta. Esta carga seria calibrada para se obter em torno de 2.300 joules, tendo em conta que o 6.8mm SPC Remington libera 2.385 joules e a M43, munição padrão do AK-47, de 7.62x39mm, 2010 joules: estes calibres são paradigmas de altíssimo desempenho em munições de assalto. O teste permitiria saber se a arma limpa deixaria de ciclar com a carga proposta ou se, pelo contrário, operaria normalmente.

Tem muito peso a opinião do engenheiro Paulo Gonçalves no sentido de que seria necessária uma nova arma para trabalhar, alternadamente, com o 7.62x51mm OTAN e com esse 7.62x51mm de carga reduzida e adaptada para CQB de forma a permitir rajadas mais controláveis que as possíveis com a munição padrão e, ainda, como bônus, maior transferência de energia (e maior poder de parada) com menor transfixação dos alvos. Ao mesmo tempo, o parecer sugere, logo de início, a viabilidade técnica do uso intermitente de tais munições numa mesma arma, desde que construída para este fim.

Ademais, a minha interpretação do prognóstico do mestre Paulo Gonçalves, transmitido, inclusive, de modo completamente informal e lacônico num fórum da web, é no sentido de que este aponte para graus de excelência na operação da arma básica das nossas Forças Armadas diante dos quais, para um técnico perfecionista, o improviso e a adaptação seriam tão desnecessários quanto inaceitáveis. Eu continuo convicto de que o FAL limpo irá ciclar perfeitamente bem quando testado com a munição equacionada para combates confinados e a curtas distâncias dentro do parâmetro indicado. Entrementes, num momento em que o País vive uma nova relação com a área de defesa, fazendo investimentos bilionários para o reaparelhamento de duas das nossas Forças Armadas, já não se faz necessário realmente pensar em adaptações tais como as que esboçamos neste blog no ano passado, quer em relação ao FAL, quer em relação, por exemplo, à submetralhadora Ingram Mac-10.

Tendo enfrentado a crise mundial emanada da recessão norte-americana de forma surpreendente para o resto do mundo, o Brasil vem confirmando as previsões que o referem como uma das potências emergentes do bloco batizado de BRIC (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China). A China já é a maior potência econômica mundial e a Índia será a segunda em breve, ultrapassando os EEUU. Enquanto que estes dois países, dentro do grupo dos BRICs são precipuamente exportadores de manufaturados e serviços, respectivamente, Brasil e Rússia seriam principalmente produtores de matérias-primas, mas não mais aquela matéria-prima bruta e sim insumos em larga medida beneficiados. Até 2050, o referido bloco de quatro gigantes exercerá hegemonia sobre um mundo multipolarizado, segundo previsões de analistas muito embasados.

Seja como for, é fato que a posição do Brasil atualmente demanda investimentos de vulto na área de defesa, tanto para a manutenção da nossa soberania, como para o incremento do próprio setor de material bélico, dentro do qual já fomos mega-exportadores, devendo este voltar a ser um dos sustentáculos da nossa economia. Conquanto a criatividade brasileira tenha-se tornado mundialmente notória por se ver potencializada ao limite diante do imperativo de ter que administrar a escassez de recursos, doravante será possível pensar soluções na área de defesa que não passem necessariamente pelo condão de "tirar leite das pedras".

Assim, mantendo o ideal de uma atualização do FAL pela via da munição, vamos tratar de sugerir uma modernização da arma em si sem pôr a perder o patrimônio de confiabilidade e credibilidade comercial adquiridos por esta. Manteremos, pois, em termos de massa (peso), cerca de 80% do FAL original e, em termos de número de peças, 50%, o que, em relação ao custo de fabricação, importa uma economia da ordem de 85%, segundo estimativas do nosso amigo Dr. Paulo Gonçalves.


Uma versão “bullpup” do FAL: M009 “Tamacavi”

Dentro das estimativas acima, podemos ter uma versão “bullpup” do FAL capaz de operar seguramente com a munição de 7.62x51mm OTAN para cobertura de fogo, saturação de área e engajamentos a longas distâncias e, intermitentemente, com aquela munição otimizada para CQB a que chamamos no ano passado de 7.62x51mm - P Spl, mas que, hoje, vamos rebatizar de 7.62x51mm CQB Esp.

A provocação para este artigo surgiu com a postagem por um agente federal amigo nosso de um “link” em que se viam fotos de rifles “bullpups” tendo como legenda o comentário lacônico do amigo: “versões ‘bullpup’ do FAL”.

Entre as fotos vistas, a do Kel-Tech RFB era a que mais se aproximava de uma versão “bullpup” do FAL. O RFB, que já foi mencionado neste blog e aparece numa foto acima de um PARAFAL, é um rifle semi-automático em 7.62x51mm, que usa os carregadores da nossa arma básica, copia o seu sistema manual de regulagem de pressão, leva uma armação em polímero e parece bastante balanceado para um “bullpup”, ergômico e estético. A extração é frontal, como a do FN F-2000 e esse detalhe nos interessa em especial.

Desenho em que se vê o Kel-Tech RFB em corte. Ponha-se reparo
no mecanismo de extração frontal

À nossa versão “bullpup” do FAL atualizada pela via da munição, ou seja, pensada a partir das munições que deverá calçar, vamos chamar de Tamacavi, reportando-nos à mitologia dos indígenas brasileiros: o Tamacavi, grosseiramente falando, é uma espécie de Hércules amazônico cujos braços são possantes como pernas e as pernas volumosas como tórax, segundo a lenda. Se o rifle fosse construído hoje, talvez o nome código dessa arma destinada a substituir o M964 fosse ser, então, — M009 “Tamacavi”.

A foto do RFB em corte acima fornece, pois, boas referências sobre o que seria o M009 “Tamacavi”. Tomemo-la por base. Vê-se que por trás do gatilho há espaço de sobra para a inserção de um — mecanismo de ação dupla semelhante ao do LAPA FA 03.

O LAPA FA 03, projeto brasileiro de um rifle “bullpup” em 5.56x45mm, traz uma inovação espetacular no mecanismo de disparo: não se precisa destravar e engatilhar a arma para acioná-la, mas apenas destravá-la: a ação dupla do gatilho funciona exatamente como as dos revólveres, é securíssima e propicia uma agilidade de resposta aterradora à arma. Como já comentamos neste blog, o Beretta ARX-160, um fuzil de assalto de quinta geração que deve entrar em uso em 2010 na Itália, possuiria também um sistema de gatilho algo semelhante ao do LAPA FA 03, embora a fonte dessa informação tenha-se perdido...

Com a postura do mecanismo de ação dupla no M009 “Tamacavi”, teremos um rifle compacto, bem manobrável, e robusto ao extremo pronto a operar com agilidade única em situações que demandem a utilização de rifles de assalto. Em tais situações, o militar treinado faria uso da munição 7.62x51mm CQB Esp., podendo efetuar rajadas bem controláveis num calibre com alto poder de parada. Para incremento da função de rifle de assalto do nosso Tamacavi, vamos inserir no projeto, ainda, uma seleção de fogo com três posições: tiros intermitentes, rajadas de três tiros e rajadas.

LAPA FA 03.

O mecanismo de seleção de fogo me parece caber também perfeitamente na imagem em corte do RFB, que persistiria sendo parecida com a do M009 “Tamacavi”. Isso que nós estamos fazendo aqui, sem perder de vista a humildade que nós, simples leigos curiosos devemos manter, é o que se chama — traçar parâmetros iniciais para a construção (e eventual encomenda) de uma arma de fogo. Assim, não precisamos nem podemos saber como construir e montar a arma peça a peça, mas apenas ter uma visão e uma proposta tática sobre como esta deveria ser em linhas gerais e por quê.

Eu sugeriria carregadores translúcidos em material sintético para o Tamacavi, já que a arma é pensada para operar com dois tipos de munições distintas que podem levar pontas de cores diferenciadas para identificação mais rápida e segura.

Sugeriria enfaticamente uma tecla de segurança sobre o gatilho para tornar ainda mais efetiva a utilização do mecanismo de disparo em ação dupla: desta forma, sequer será necessário manter a arma travada o tempo todo, estando o militar fuzileiro sempre pronto para a reação imediata.

A extração frontal é imensamente vantajosa em relação, por exemplo, àquela tosca ejeção lateral de cápsulas que se vê ainda no TAVOR da Taurus/IMI: o já antiquado e limitado TAVOR, se configurado para utilização por usuários destros, não tem como ser operado imediatamente por canhotos, e vice-versa. A reconfiguração do TAVOR para uso por um atirador canhoto demanda desmontar a arma e levar a cabo um procedimento trabalhoso, relativamente complexo e demorado.

Há uma área ampla para a colocação de trilhos do tipo picatinny sobre a caixa de culatra, sobre as telhas e sob o cano à maneira do que se vê no FN Scar. Também à maneira do que se vê no FN Scar, pediríamos canos modulares de dois ou três comprimentos aos construtores: um cano de 13 polegadas seria recomendável para a aplicação da arma como fuzil de assalto; talvez um cano de 16 polegadas, para o seu emprego como MBR (em cobertura de fogo, saturação de área e engajamentos a longas distâncias); e um cano bastante longo de 24 polegadas (usado no RFB Sporter), para uma eventual utilização sniper. Para emprego como MBR, entretanto, nós já possuímos os legendários FAL e PARAFAL e por isso talvez nem sejam necessários canos de 16 polegadas para o M009 “Tamacavi”. Assim, quando os engajamentos comecem inesperadamente a ocorrer a distâncias maiores que as previstas de início, a possibilidade de emprego da munição de potência plena na arma padrão, com canos de 13 ou 16 polegadas, seria um trunfo inédito. Canos de 16 polegadas para 7.62x51mm são utilizados também nas carabinas SOCOM 16 e SOCOM II (esta com cano de 16.25”). Entretanto, vamos, por ora, estabelecer o cano de 13 polegadas como padrão para o nosso “bullpup” baseado no FAL.

FN Scar H com canos de 13”, 16” e 20”.

A doutrina norte-americana sobre o uso tático do FN Scar, quando estiver pronta e divulgada, poderá nos servir de modelo para fazer uso efetivo dessa modularidade de canos prevista já aqui. Um sistema de troca rápida de canos como o do Scar seria, então, bem-vindo no nosso rifle.

Teríamos nesta arma um complexo tático, mais que um simples fuzil. Os acessórios, tais como visores noturnos, miras de visada rápida, holográficas e laser, lança-granadas e lanternas tornariam esse complexo cada vez mais polivalente e insuperável.

Para manter a fidelidade à fabricante do protótipo do FAL, poderíamos tentar equacionar espaço na arma para acoplar o lança-granadas FN40GL, projetado exclusivamente para o FN Scar. Entretanto, inicialmente não me parece que haja espaço para um lança-granadas desse tipo num rifle “bullpup” com cano de 13 polegadas. Já o estupendo fuzil de assalto russo OTs-14 “Groza”, baseado no AKS-74U, que calça o 9x39mm, SP-5 e SP-6, ou o 7.62x39mm M43 (duas munições de recuo semelhante ao da nossa 7.62x51mm CQB Esp.), leva lançadores de granadas bem interessantes para rifles ultra-compactos nesta configuração.

Uma válvula automática de regulagem de pressão semelhante a que se vê no HK G36 utilizado pelas nossas forças especiais, comandos e polícia federal é o ponto-chave para a utilização segura das munições de pressões distintas pensadas para o M009 “Tamacavi”, estando a arma limpa ou muita suja, e isso nós já propusemos há algum tempo atrás.

A munição idealizada 7.62x51mm CQB Esp. traria sobre o 5.56x45mm OTAN a incomensurável vantagem de poder ser usada em combate de selva, sendo dois terços do território nacional recoberto por matas densas. O 5.56x45mm OTAN é inviável no combate de selva porque seus projéteis de apenas 4 gramas (62 grains) de massa se desviam em folhas, galhos e outros obstáculos facilmente, de modo que a floresta já fornece blindagem suficiente contra o débil calibre projetado para ferir mais do que para matar. A ausência de poder de parada do 5.56x45mm, que já causou tantas baixas entre soldados da OTAN ao longo de décadas também fica sanada: o nosso calibre tem “stopping power” teoricamente superior até mesmo ao do 7.62x51mm padrão, transferindo mais energia que este e transfixando menos a distâncias curtas e médias, vale repetir.

A robustez legendária do FAL deve ser mantida e, diante destes parâmetros, o que mais vier, se não for contraproducente, será um lucro adicional bem-vindo, mas nessa proposta já se tem mais do que o conceito puro de qualquer outro rifle militar de quinta geração pretendeu oferecer de modo chão até o momento. Para ênfase, lembremo-nos de que 50% das peças do FAL original da Imbel são utilizadas nesta arma, representando cerca de 80% do peso total do “bullpup” e uma economia em custos de fabricação da ordem de 85%, segundo estimativa técnica altamente abalizada.

Kel-Tech RFB semi-desmontado.

Pelas dimensões do Kel-Tech RFB, podemos estimar o comprimento da arma em, aproximadamente, 533mm com cano de 13” (CQB) e 610mm com canos de 24” (sniper). Pelo aproveitamento de peças, a massa total da arma deve ficar, acredito, sem acessórios e carregadores, mantido o sólido trancamento basculante do FAL, na casa dos 3.4 quilos com o menor comprimento de cano previsto. Já se passarmos a utilizar o trancamento rotativo do MD97, esse peso pode cair ainda mais.





Vídeo mostrando o Kel-Tech RFB com cano de 18”, calçando munição de 7.62x51mm OTAN em operação num estande de tiro. Os russos classificam o RFB como rifle sniper.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Mito Messiânico do "Dr." Fackler



Para início, Fackler é tão doutor quanto qualquer advogado, dentista, engenheiro ou médico com formação de terceiro grau. A tradição de chamarem-se bacharéis nessas áreas de “doutores” perpassa diversos países. Entretanto, quando se opõem as estranhas considerações de Fackler sobre armas e munições a trabalhos científicos levados a cabo por Professores-Doutores, a primeira impressão errônea que sobrevém é a de que o coronel médico reformado Martin Fackler tenha douramento no que quer que seja. Ora, a “controvérsia acadêmica” havida entre um bacharel em Medicina com um diploma bastante antigo e uma PhD em Medicina por Harvard com um currículo do quilate do que ostenta a Dra. Amy Courtney, por exemplo, é tão válida e relevante quanto uma controvérsia que possa surgir em sala de aula entre um aluno de primeiro grau e um professor com graduação em Ciências Biomédicas. De fato, não há controvérsia acadêmica possível.

Apenas à guisa de ilustração, vejamos que espécie de formação possui a Professora-Doutora Amy Courtney:

Tradução do subtítulo "Sobre os Autores" ("About the Authors") do texto científico "The Ballistic Pressure Wave Theory of Handgun Bullet Incapacitation".

Sobre os autores
Amy Courtney serve atualmente na faculdade da Academia Militar Norte-Americana de West Point. Ela obteve mestrado em Engenharia Biomédica pela Universidade de Harvard e Doutorado em Engenharia Médica e Medicina Física por um programa conjunto Harvard / MIT (Massachusetts Institute of Technology). Lecionou Anatomia e Fisiologia, bem como Física. Serviu como cientista pesquisadora na Cleveland Clinic e na Carolina Western University, bem como na faculdade de Engenharia Biomédica do Estado de Ohio.
Endereço de email para contatos com a doutora na Universidade de Harvard:
Amy_Courtney@post.harvard.edu

Some-se a esse gigantesco desnível acadêmico em relação ao pobre Fackler o fato de que a Professora-Doutora Amy escreve a quatro mãos com o também Professor-Doutor Michael Courtney, seu marido, cujo currículo não fica abaixo do dela:

Michael Courtney obteve PhD em Física Experimental pelo Massachusetts Institute of Technology. Ele tem trabalhado como Director do Forensic Science Program (Programa de Ciências Forenses) da Western Carolina University e também lecionou Física, Estatística e Ciência Forense. Michael e sua esposa, Amy, fundaram o Grupo de Experimentos Balísticos, em 2001, para estudar incapacitação balística e reconstrução de eventos envolvendo tiroteios.
Endereço de e-mail para contatos com o doutor Michael Courtney no MIT (Massachusetts Institute of Technology):
Michael_Courtney@alum.mit.edu .

Aliás, uma prática constante entre os seguidores do mito messiânico do “Dr.” Fackler é ignorar a Dra. Amy, fazendo de conta que os trabalhos do casal sobre balística terminal que, de passagem, desmascaram completamente o coronel médico são de autoria apenas do Dr. Michael. Tal hipocrisia pode ter relação com a forma como alguns grupos de fanáticos com a mentalidade soterrada nas areias do Oriente Médio encaram as mulheres, mesmo quando sejam especialistas de alto nível: estes simplesmente as ignoram, ainda hoje, no século XXI, e as tratam com desdém e arrogância doentios.

Nos EEUU, mais que em qualquer outro país do planeta, tudo se resolve por meio de “lobbies”. Para entender como surge um mito, uma celebridade sem qualquer talento como Fackler e porque se desfazem as suas carruagens em abóboras da noite para o dia naquele país, tem-se que buscar compreender que tipo de "lobby" havia por trás de seus nomes.

E falando-se especificamente em nomes, o nome "Fackler" tem origem alemã; vem da raiz "vackel" ("tocha") somada ao sufixo formador de adjetivos "-er", e significava "archeiro", “carregador de tochas”, ou algo assim. É, portanto, um sobrenome derivado de uma profissão...

Ainda não sei, de plena certeza, qual "lobby" manteve Fackler em evidência durante certo tempo antes que o mito messiânico que o envolvia começasse a ruir, mas é certo que estão contados os seus dias de escrever impunemente por aí tolices tais como aquela sobre “um tiro de AK-47 e um tiro de arma de mão [genérica] terem a mesma balística terminal”, ou sobre como “a Convenção de Haia teria ‘encomendado’ os calibres FMJ de fuzis e pistolas militares para que estes possam, irrestritamente, ferir sem matar”...

Verdadeiros cientistas e pesquisadores de alto nível estão debruçados hoje sobre a questão do "stopping power" e de seus mecanismos, que giram em torno, segundo eles, do (1) choque hidrostático, da (2) cavidade temporária, e da (3) onda de pressão balística.

É nesses estudos que devemos manter as nossas atenções, se quisermos saber quais são as últimas descobertas da ciência sobre o assunto, cônscios de que, sobre Fackler e a passionalidade que houve em relação à defesa dos seus inusitados e até absurdos pontos-de-vistas, podia existir uma explicação simples que passa pelo "lobbysmo" e ao mesmo tempo pelo sectarismo propiramente dito... algo, portanto, impossível de ser discutido por meios laicos e lógicos.

Uma das falcatruas de Fackler foi tentar invalidar o relatório de Estrasburgo. Tal relatório, que encerra o resultado de testes balísticos com cabras, é de validade científica notória, embora o assunto testes com animais cause muitos problemas e até perseguições para cientistas e pesquisadores na atualidade.

Em função de tais problemas, os responsáveis pelos testes de Estrasburgo procuraram se preservar, e isso rendeu ensejo ao escroque mentalmente desregulado conhecido como "Dr." Fackler para afirmar que o relatório seria fraudulento.

Fackler criou, como figura de "retórica" (e "retórica" de estelionatário, diga-se de passagem), uma comissão do FBI que certamente jamais se reuniu; escreveu que essa comissão fora composta de "seis dos maiores especialistas do mundo" e que tal comissão, inexistente e, portanto, anônima, é óbvio, teria concluído que o relatório de Estrasburgo seria fraudulento pela única razão ser anônimo. Os métodos de Fackler são dessa ordem. Apenas, recapitulando, antes que alguém se perca: o "Dr." Fackler inventou uma comissão fictícia anônima do FBI para dizer que os testes com cabras de Estrasburgo seriam fraudulentos por serem anônimos.

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A FALÁCIA DA LITOTRIPSIA DESMASCARADA PELA CIÊNCIA.

Fackler é novamente humilhado pelos Professores-Doutores May e Michael Courtney:
"exaggerations, logical fallacies, and scientific errors".


É patente o esforço do casal Courtney no trabalho acadêmico intitulado "The Ballistic Pressure Wave Theory of Handgun Bullet Incapacitation" no sentido de não adjetivar Fackler, não ofendê-lo, nem pôr destaque excessivo às suas armações fraudulentas e sempre conduzidas em linguagem furiosa e acusatória.

Entretanto, a falácia da litotripsia é completamente desmascarada pelos cientistas: este tratamento acarreta a ocorrência de ondas de pressão que são capazes de provocar danos a tecidos sim, e o provocam muito frequentemente, ao contrário do que alegava Fackler a fim de sustentar que, por analogia, a onda de pressão balística em estudo não poderia ter efeitos fisiológicos.

Não que a questão da analogia entre a onda de pressão balística e os efeitos da litotripsia tivesse realmente alguma relevância in casu, mas, de toda forma, a premissa seria falsa, pois o tratamento também provoca ondas de pressão de características específicas que causam sim os danos que Fackler desconhecia.

Clique sobre a imagem para ampliá-la.

A argumentação sobre a incapacitação rápida de animais e humanos segue o seu rumo no texto e, pelo caminho, outros desvios de conduta ética de Fackler sem qualquer fundamento científico têm de ir sendo desmentidos, sucintamente, pelos Professores-Doutores.

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Outro desses desvios de conduta de Fackler que merece nota especial respeita à acusação que lança sobre serem as famosas tabelas de “stopping power” criadas pelos policias Marshall e Sanow fraudulentas... Novamente, o coronel médico esbraveja falando em fraude e chega a afirmar sem provas que Marshall e Sanow teriam criado as tabelas estatísticas sem qualquer recurso a cálculos e atendendo a interesses de fabricantes de munição.

Por necessidade imperiosa, então, neste outro trecho do interessantíssmo trabalho acadêmico em que os Professores-Doutores Courtney citam os ícones Marshall e Sanow, também citam Fackler, mas no caso deste, apenas para desmentir aquilo a que chamam de "falácia" pseudo-estátisca lançada pelo coronel médico reformado contra os policiais pesquisadores.

Fackler começou a fezer nome através de tais calúnias (falsas imputações de natureza criminosa) contra Marshall e Sanow. Hoje, Professores-Doutores especialistas em Estatística desmascaram Fackler e seu crime, e enaltecem o valor histórico do trabalho dos policias, provando quem, afinal, é o fraudador inescrupuloso que age com absoluta falta de ética e, dia após dia, é mais vigorosamente repudiado como tal pelo meio acadêmico.

Clique sobre a imagem para ampliá-la.

Nas letras miúdas e sublinhadas por mim, Fackler, sempre furioso, sempre irritadiço ou jocoso, mente afirmando que as estatísticas de Marshall e Sanow seriam forjadas...

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DISCURSO ESSENCIALMENTE DESARMAMENTISTA.

Ainda que Fackler não se declare desarmamentista, o seu discurso sobre a ausência de “stopping power” nos calibres de munição é essencialmente desarmamentista. Ora, por quê? Porque se não houvesse como incapacitar o oponente com disparos de munição, disparos de munição tornar-se-iam inúteis e até ilegais. Apenas em campo de batalha, por força do que um Fackler nitidamente paranóide encara como a “conspiração de paz de Haia de 1899” (vide artigo “O Atentado de Stockton e a Letalidade do 7.62x39mm”) haveria emprego para armas, e armas com munição FMJ: estas serviriam, segundo o coronel médico, para ferir sem matar, o que de fato é ilegal na guerra como comenta, mas “eles” (“os de Haia”) fariam uma vista grossa para isso...

Repercussões do atentado de Stockton e dos discursos sensacionalistas-desarmamentistas que o seguiram, inclusive o de Fackler:

”In California, measures were taken to first define and then ban assault weapons, resulting in the Roberti-Roos Assault Weapons Act. On the Federal level, Congress struggled with a way to ban weapons like Purdy's military-style semi-automatic rifle without also including semi-automatic hunting rifles. In the end, Congress defined "assault weapons" as semi-automatic weapons with certain military-style secondary features such as flash suppressors, bayonet lugs, and pistol grips. These were banned in the Federal assault weapons ban, enacted in 1994, which expired in 2004. President George H. W. Bush signed an executive order banning importation of assault weapons in 1989. President Bill Clinton signed another executive order in 1994 which banned importation of most firearms and ammunition from China”.

http://en.wikipedia.org/wiki/Cleveland_School_massacre#Repercussions

Em suma: os rifles que, segundo Fackler, calçariam as munições incapazes de incapacitar, tornaram-se os "bandidos" da história, e, já que a arma usada no atentado viera da China, proibiram-se, pois, as armas e munições chinesas... Essas providências espelham perfeitamente o que se pode chamar de raciocínio desarmamentista clássico.

Assim, contrariando o princípio racional plasmado no enunciado “si vis pacem parabellum” popularizado pelo tratadista romano Publius Flavius Vegetius Renatus, o mito messiânico do “Dr.” Fackler resolve-se num mito desarmamentista que tende a livrar a humanidade do mal das armas de fogo inúteis para incapacitar e de suas munições que apenas ferem cruelmente de modo ilegal e desumano...



segunda-feira, 24 de agosto de 2009

REVÓLVERES RUSSOS



O Ots-38 “revolver silente”.


O Ots-38 é um SA/DA desenvolvido pelo KBP - Instrument Design Bureau, sediado em Tula. O revólver de cinco câmaras calça a munição silenciosa 7.62mm SP-4, com pistão interno ao cartucho e excelente alcance efetivo de 50 metros.



O sistema do gatilho admite três posições: repouso, segurança (ou semi-engatilhado) e engatilhado. O sistema de alimentação, com um tambor basculante, permite que a arma seja municiada e desmuniciada com extrema agilidade, mas, sobretudo, funciona, como segurança, prevenindo disparos em função de quedas eventuais do revólver. A munição é sempre conduzida em clipes.




Como acessório, o OTs-38 leva miras laser. A associação da mira laser e este conceito propicia que se dispare a munição silente com a mão velada sobre um tampo de mesa, ou casaco, por exemplo, e em posição física insuspeita, fazendo pontaria através do ponto vermelho.

A arma tem dimensões de 191 x 40,2 x 140 mm, sendo ideal para o uso por serviços reservados.



U-94 ‘‘Udar’’


O U-94 Udar é um SA/DA com o cão protegido por uma estrutura de segurança contínua ao cabo sintético, mas acessível ao polegar através de uma abertura na parte superior dessa mesma estrutura.



O revólver de cinco câmaras, nas três versões Udar, Udar-S e Udar-TS, calça as munições nos calibres 12.3x50mm, 12.3x22mm e 12.3x40mm, respectivamente. Tais munições são derivações do calibre 32 gauge.

Como revólver de cartuchos de bagos, o Udar é um parente bastante operacional do nosso RT Judge, sendo adotado pelas FFEE russas, as Spetsnaz, e pelas forças policiais do seu país de origem.



As munições preparadas para o Udar são carregadas com uma grande variedade de insumos, entre os quais projéteis do tipo "armor piercing", munição incendiária, balas de borracha (não-letais) e, sobretudo, projéteis múltiplos.

O guarda-mato se alonga em direção ao robusto reforço sob o cano para formar uma superfície vertical de manobra presente, atualmente, nas três versões supracitadas da arma.

O U-94 "Udar" é outro projeto do KBP concretizado na famosa fabrica de Tula.



Revólver MP-412 "REX"

O MP-412 é uma SA/DA basculante, ou "top break" com ejeção automática, de seis câmaras, frame e cabo em polímero, que calça munição no calibre .357 Mag.




O MP-412 "REX" é fabricado pela Izhmash, mesma fabricante dos rifles da família AK, do sniper Dragunov, da espingarda Saiga, e de várias submetralhadoras indefectíveis.

Supõe-se que seja uma arma extremamente robusta; a precisão intrínseca é dita excepcional, sendo que a chancela da Izhmash pesa mais que qualquer outra do planeta em relação à alta confiabilidade de armas leves.

O revólver foi desenvolvido para exportação, de onde o acrônimo REX (REvolver for EXport), figurando, outrossim, na lista de armas adotadas pelas Spetsnaz, porém, teve a sua chegada ao Ocidente vigorosamente boicotada pelas empresas do suposto mercado livre, não sem razão temerosas da concorrência.





A extrema agilidade que os "top breaks" propiciam em relação ao municiar e desmuniciar completa-se com o uso concomitante de clipes ou "jet loaders" e os russos amam esse sistema desde os primeiros tempos do revólver no mundo das armas de mão.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Desert Eagle, Corner Shot e Tavor 21



É de mister consentir-se que têm um caráter deveras empreendedor algumas armas da IMI Israeli Military Industries, tais como a pistola Desert Eagle, os acessórios Corner Shot e o "bullpup" Tavor 21.

Calçando o calibre .50 Action Express (12.7x33mm), entre outros dos mais poderosos, a Desert Eagle em .50 é, provavelmente, a pistola semiautomática existente que libera maior quantidade de energia por disparo.

Pondo de lado o “short recoil” e o “blowback”, sistemas de operação comuns a quase todas as pistolas semi-automáticas, automáticas e submetralhadoras, a indústria israelense optou pela operação à gás para fazer ciclar essa volumosa arma curta de cerca de dois quilos de peso desmuniciada. O mais surpreendente acerca da DE, entretanto, está no fato de que a nada barata pistola simplesmente seja bem vendida no mundo inteiro há décadas, apesar de que nunca se duvidou do gênio dos israelenses para negócios.

Vídeo mostrando a DE em ação num estande de tiro: observem-se as labaredas que se propagam para além do cano da arma, bem como o acentuado recuo resultante dos disparos.


Os acessórios Corner Shot são outra criação marcante da indústria israelense de armas, tendo estes ganhado espaço em dois episódios da série de TV por assinatura “Future Weapons”. Os historiadores do futuro interessados em armas de fogo certamente vão legar algum tipo de destaque a tais engenhocas, bem como os colecionadores de amanhã. O conceito dos Corner Shots parece nitidamente tentar oferecer um revide contemporâneo à engenharia militar do Terceiro Reich que criou o legendário Stg 44  sigla derivada de SturmGewehr, literalmente: “Fuzil de Assalto” o protótipo de uma categoria de armas que marcaria o século XX. O Stg 44 incorporava um inusitado acessório que permitia aos atiradores efetuarem tiros de dentro dos CC sem exposição dos seus corpos ao fogo inimigo.

Ora, o acessório Corner Shot, utilizando tecnologia atual, faz o que o referido acessório do Stg 44 pretendeu fazer, quiçá sem grande êxito, há sete décadas atrás. O resultado são configurações de armas deveras extravagantes no aspecto.

Foto do Stg 44 com o
Krummlauf Vorsatz (“Cano Recurvado”)
acoplado ao bocal: uma legenda da indústria militar alemã.










Outra arma israelense que mereceu destaque nos episódios da série "Future Weapons" foi o rifle "bullpup" Tavor 21.

Numa época em que os "bullpups" militares remanescentes já utilizam sistemas frontais de extração baseados no do FN F-2000 para solucionar o problema das cápsulas aquecidas que atingem o rosto e a vista do atirador quando este tenta operar algum dos primeiros "bullpups" com a mão esquerda, o TAR 21 continua corajosamente atrelado à extração lateral, mas há uma explicação: o rifle israelense pode ser configurado para ejetar as cápsulas pelo lado esquerdo ou direito, conforme as necessidades do usuário. Destarte, a arma configurada por um atirador canhoto para seu uso não pode, imediatamente, durante um conflito, ser operada por um companheiro destro, ou vice-versa. Ainda assim, o Tavor é considerado uma arma de quarta geração, já que incorpora trilhos picatinny para acoplar acessórios tais como miras holográficas, popularmente conhecidas como “red dots”, visores noturnos e lanternas. Por conta disso, as fontes mais entusiasmadas comentam literalmente que o Tavor 21 é “cheio de equipamentos eletrônicos”.

O EB tem procurado historicamente “jogar de tabela” com a indústria nacional de armas e a Forjas Taurus está para apresentar a sua versão do "bullpup" israelense em questão ao público. Provavelmente uma arma aceitável para uso policial, embora pouquíssimo adotada no mundo, se o Tavor da Taurus for comercializado a preços interessantes para o poder público [algo pouco provável, em vista dos altos preços de venda do rifle israelense], é possível que venha a suprir algumas policias brasileiras com vantagens amplas sobre a CT-30.


Vídeo da série “Future Weapons” abordando o acessório Coner Shot.

 





 

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Munições Com Pontas Frangíveis de Tungstânio Extreme Shock Fang Face




As munições com projéteis frangíveis de tungstênio não são uma novidade. Tenho guardado comigo algum material sobre pontas deste tipo em munições para rifles.

O tungstênio é um metal raro na natureza e, por conseguinte, caro como matéria-prima.

No processo de fabricação de balas frangíveis de tungstênio, pulveriza-se o metal para, em seguida, comprimi-lo, de modo que as balas “explodem” no impacto contra o alvo.

Como as de toda munição frangível, essas pontas apresentam as vantagens de não transfixar do primeiro alvo atingido, nem ricochetear em direção ao próprio atirador ou a terceiros inocentes.

Sobre as munições Extreme Shock, com pontas do tipo “hollow point” batizadas de Fang Face (Face Denteada), existe material escasso e pouco claro na web.

Entrementes, o que é demonstrado em vídeos feitos pela fabricante, revendedores e usuários é algo que surpreende bastante e aguça a nossa curiosidade. Transferindo toda a energia que carregam para as superfícies contra que se chocam e desintegram, os projéteis dessas munições “explodem” à maneira do que se propunha acontecer em relação a balas preenchidas no seu interior com mercúrio ou glicerina, porém, é enfatizado que as munições Extreme Shock não são tóxicas, a despeito da polêmica em torno de serem estas cancerígenas.

No vídeo supostamente amadorístico abaixo, são testadas munições de ponta de tugstênio da Extreme Shock no calibre .45 ACP em melancias. O primeiro disparo que se vê é dado com uma pistola usando munição .45 ACP convencional; o segundo disparo é dado com um cartucho no mesmo calibre e da mesma pistola, porém utilizando-se munição Extreme Shock com ponta no formato do tipo Fang Face. Seguem as comparações entre as munições num segundo teste em que novamente é utilizada uma melancia como alvo.



Conquanto as melancias atingidas pelas pontas em questão fiquem esbagaçadas, a parte traseira das frutas permanece intacta. Isso demonstra que as balas não transfixam o alvo como ocorre em relação aos projéteis de .45 ACP convencionais a curta distância (sete jardas, ou 6.4 metros aproximadamente).

A fabricante salienta, trocando em miúdos, que essa munição rompe ligações nervosas, produzindo estado de choque sempre que atinja em cheio um tórax humano. Mesmo sobre membros o resultado há de ser devastador, tendendo a paralisar o oponente.

O vídeo seguinte mostra testes feitos em gelatina balística e outros alvos, porém as imagens são jogadas na tela muito rapidamente e sem nenhuma explicação detalhada...



Não parece que a munição seja algum “top secret”, ao contrário, vários sites, inclusive, apresentam links para a sua venda, entretanto, se esquivam estranhamente de dar maiores explicações sobre os produtos.

A próxima filmagem mostra a utilização de uma munição Extreme Shock do mesmo tipo em 5.56x45mm subsônica. Essa munição pode ser carregadas nos rifles da família AR-15/M-16/M-4 sem qualquer alteração na arma, segundo o vídeo e o site da empresa responsável.



No vídeo acima, garante-se que é possível abater um javali de 250 libras e, logo, em seguida, um outro de 275 libras, como se vê nas imagens, animal normalmente muito resistente a tiros, com um único disparo desse tipo de munição e no calibre .380 ACP, um calibre, até aqui, reputado “anêmico” e adequado ao uso em defesa pessoal apenas por mulheres com mãos pequenas e braços delicados. O vídeo anterior, visto mais acima, já mostrava um javali de 425 libras abatido por dois tiros de .32 NAA Fang Face; em seguida, um animal imenso abatido com um tiro só de 9mmP e, finalmente, um último porco selvagem de 475 libras morto com dois tiros de .380 ACP Extreme Shock.

Os testes com javalis demonstram que essas balas não se detêm diante de vestimentas grossas como ocorre em relação à munição Glazer: os porcos em questão possuem couro e pelagem, além de densas couraças de banha.

A munição seria ideal, ainda, para as atividades de contraterrorismo dentro de aviões, uma vez que os projéteis não perfurariam as paredes internas das aeronaves, se fragmentado contra alvos duros com baixo índice de penetração.

Há uma revolução no espectro das munições para armas leves ocorrendo no mundo e a nossa indústria de defesa precisa se afinar com essas tendências, pesquisando e manufaturando munições brasileiras capazes de atender às demandas atuais do combate armado nos planos militar e policial.

As munições Extreme Shock estão sendo oferecidas ao público em calibres táticos, policiais e de defesa pessoal, para pistolas, rifles e espingardas, que vão do .380 ACP e do 32 NAA, ao 9mmP, .40 SW, .45 ACP, .45 GAP, .38 Spl, .357 Mag, .357 Sig, e vão do 5.56x45mm, .308, 30-06, .300 Mag ao 12ga, passando, ainda, por outros.

Existem variações de tipos nos produtos para aplicações distintas, como se pode observar nos sites abaixo. Entretanto, até onde eu tive paciência para navegar nos referidos sites, muito mal-feitos e cheios de ilustrações juvenis, concluí que é o uso do tungstênio comprimido junto com outro tipo de material incógnito numa mistura a que fabricante chama de Tungsten-NyTrillium o que caracteriza, em linhas gerias, os projéteis dessas munições.


Site da fabricante

Site de uma verendedora


Não obstante a aparência pouco confiável de ambos os sites, bem como dos vídeos vistos, a munição me chamou atenção e despertou uma mescla de curiosidade e ceticismo em relação à autenticidade dos testes e informações. Apenas após ler o relato do Jeff Quinn, no site Gunblast.com, consegui dar crédito definitivo à eficiência das pontas de tugstênio fabricadas pela Extreme Shock. [Hoje, em 27 de junho de 2009, verifica-se que há uma nota neste último site aos eventuais compradores, comunicando que a munição Fang Face não é mais produzida pela Extreme Shock, mas alguns dos produtos anunciados ainda podem ser comprados em pequenas quantidades, logo, provavelmente, a sua comercialização para civis não chegou a ser proibida].


Foto em que se vê um cartucho de munição táctica 12ga Extreme Shock com bagos de tungstênio comprimido à mostra fora do estojo:



Um último vídeo mostrando, além do que já se viu acima, testes comparativos entre o rendimento de munição frangível da Cor-Bon (Glazer) e munição Extreme Shock:






Feedback


Quando eu divulguei o link deste artigo sobre a munição Extreme Shock, com pontas frangíveis de tugstênio, houve uma certa descrença por parte de alguns colegas, que encontraram relatos estranhos em fóruns estadunidenses, os quais apelavam para a galhofa sem fundamentação.

Esses relatos, que eu já tinha lido por alto, colaboraram para me fazer pensar que a munição poderia ser melhor e mais perigosa do que me parecera ser quando escrevi sobre esta incialmente neste blog: as críticas e até algum teste comparativo sem qualquer nexo pareciam francamente financiadas pela concorrência (Cor-Bon).

Um relato definitivo sobre essas munições, entretanto, vem do Jeff Quinn e data já de 2007. O próprio Jeff Quinn matou um javali com um tiro de 9mmP, usando a sua pistola S&W, e ainda procedeu a uma autópsia do porco — palavras dele — para saber de que forma a munição tinha rompido os tecidos e órgãos internos do animal:

http://www.gunblast.com/ExtremeShock.htm

Enigmática do começo ao fim, a munição em questão deixou no ar algumas dúvidas e a forte impressão de que pontas frangíveis de tungstênio possam seguir sendo aprimoradas e produzidas para usos reservados nos EEUU e em outros países.